Da feijoada ao mungunzá, a cultura africana permeia a gastronomia brasileira
A gastronomia brasileira foi altamente impactada pelas culturas africanas, trazidas pelos escravizados, que se difundiram e se tornaram uma parte indelével da nossa identidade, criando a gastronomia afro-brasileira.
Essa faceta da nossa história culinária é rica em temperos e aromas e carrega uma grande sensação de pertencimento e compartilhamento, herança direta dos tempos da escravidão no Brasil. Essa característica moldou as receitas de forma que todas são feitas em grandes quantidades e perfeitas para compartilhar com amigos e familiares.
Pensando na grande diversidade de sabores da culinária afro-brasileira, preparamos uma lista com 9 pratos imperdíveis. Confira:
Caruru
O caruru é um prato de origem africana, especialmente da região onde hoje é a Nigéria. A sua composição é simples, feita a partir de um cozido de quiabo com camarões secos, temperos e dendê.
O caruru é um prato muito marcante da culinária afro-brasileira pela sua relação próxima com o candomblé no estado da Bahia sendo usado como um prato de ritual. Segundo a tradição da festa de São Cosme e Damião, as crianças devem se alimentar primeiro do caruru para representar a pureza e o compartilhamento da festividade.
Bobó de camarão
Outra iguaria da culinária afro-brasileira que não pode ser deixada de lado é o famoso bobó de camarão. Seu nome Bovó vem da língua Fon (falada na região de Benim, Nigéria, Congo, Haiti, República Dominicana e Brasil).
Esse prato marcante é feito a partir de leite de coco, creme de mandioca, camarões e azeite de dendê. Sua receita também é um marco da união com a gastronomia indígena pelo uso da mandioca.
Assim como o caruru, o bobó também é utilizado em rituais do candomblé e oferecido ao orixá Oxum, senhora da beleza, fertilidade e dinheiro e filha de Iemanjá.
Acarajé
Talvez um dos pratos mais conhecidos da culinária afro-brasileira, o acarajé é o símbolo da cultura iorubá (povos da África Ocidental como Benim, Togo, Nigéria e Camarões) e seu nome vem da junção do termo akara que significa “bola de fogo” e je que significa “comer”.
O acarajé é um bolinho de massa de feijão, cebola e sal frito no azeite de dendê. Esse bolinho é então recheado, tradicionalmente com o vatapá, e servido com vinagrete e pimentas de acompanhamento.
No candomblé o acarajé é oferecido no ritual de Iansã, orixá esposa de Xangô e a tradição diz que para os filhos de santo provarem que estavam em transe eles embebem uma bola de algodão em azeite e ateavam fogo para engolir as chamas. A semelhança do formato e tamanho do acarajé com as bolas de algodão em chamas conferiram ao prato o seu nome.
Vatapá
O vatapá é outro expoente da tradição africana na culinária brasileira, em especial no Norte e Nordeste. O seu preparo inclui pão molhado ou farinha de rosca, fubá, gengibre, pimenta, amendoim, cravo, castanha de caju, leite, azeite, cebola, alho e tomate cozidos para obter um creme.
Além disso, o prato também pode ser preparado com camarões frescos ou secos e moídos, peixe, bacalhau ou com carne de frango, acompanhados de arroz, ou como recheio do acarajé.
Abará
Uma variante do vatapá é conhecida como abará, esse prato também trazido pelos povos iorubá possui a mesma massa de seu irmão vatapá, porém a diferença está no preparo. Enquanto o vatapá é frito em azeite de dendê, o abará é embrulhado em folhas de bananeira e cozido em banho-maria até obter uma consistência firme para ser recheado.
Mungunzá
Essa iguaria doce de origem africana é muito apreciada durante os períodos festivos juninos. O prato consiste em grãos de milho-branco cozidos em leite, ou leite de coco, cravo-da-índia e canela, pode ser conhecido também por canjica.
O termo mungunzá vem do quimbundo mu’kunza que significa “milho-cozido” trazido pelos escravizados da região que hoje é a Angola.
Feijoada
Por fim, o prato mais conhecido da culinária brasileira: a feijoada, prato com raízes africanas. Existe muito debate, inclusive nos cursos da faculdade de gastronomia, acerca da origem da feijoada. Uns defendem que a feijoada é um parente de outros guisados europeus como o cassoulet francês.
Já outros especialistas debatem que a origem da feijoada está dentro das senzalas, com os escravizados cozinhando cortes de carnes descartados pelos senhores-de-engenho, junto com feijão-preto e arroz.
Talvez a verdade nunca seja descoberta, mas uma coisa é certa, a feijoada é um prato que expressa o calor brasileiro e o desejo de compartilhar uma boa refeição com amigos e familiares.