Representantes do governo e da sociedade civil debatem políticas migratórias e combate ao racismo
A cidade do Rio de Janeiro sediou o primeiro “Diálogos Mudando Narrativas sobre Migração”. O evento internacional, realizado no último sábado (23), reuniu cerca de 200 pessoas no Museu do Amanhã. Pesquisadores de 12 países, incluindo Brasil e Haiti, juntamente com representantes da sociedade civil, instituições públicas e organizações do terceiro setor, estiveram presentes. O evento contou com a apresentação do coral haitiano Vozes Sem Fronteiras. No encerramento, um cortejo artístico partiu do lobby até a área externa do museu, em direção à Praça Mauá, sob a direção do coreógrafo e dançarino Johayne Hildefonso.
Foram discutidas questões relacionadas às políticas públicas, redução das desigualdades e desenvolvimento. Aém de chamar a atenção para as rotas migratórias entre países de seis corredores migratórios do eixo Sul-Sul. Esses corredores são responsáveis por um terço de todo o movimento migratório no mundo, atingindo 70%. Os corredores mencionados são: Burkina Faso-Costa do Marfim, Etiópia-África do Sul, China-Gana, Egito-Jordânia, Nepal-Malásia e Haiti-Brasil.
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O diálogo é uma iniciativa da Universidade Internacional das Periferias (UNIperiferias) em parceria com o MIDEQ (Desenvolvimento e Igualdade através da Migração) e a People’s Palace Projects do Brasil (PPP do Brasil). O evento contou com a presença do coordenador de políticas transversais, Paulo Pacheco, representando o Ministério da Igualdade Racial, e o coordenador geral de imigração laboral do Ministério da Justiça, Jonatas Pabis. Eles participaram das mesas principais, uma delas mediada por Raul Santiago, empreendedor e ativista.
Diálogo sobre novas políticas
Na mesa “Raça, Migração e Democracia”, Paulo Pacheco afirmou que o governo pretende priorizar a discussão migratória. “É relevante mencionar que estou representando o Ministério da Igualdade Racial. Nossa missão do Ministério é reestabelecer diálogos e abordar questões que, nos últimos anos, estagnaram ou retrocederam. Uma das prioridades é a focalização e racionalização de todas as políticas para sua efetiva implementação. Todos estamos cientes dos desafios que enfrentaremos neste ano”, disse o coordenador de Políticas Transversais na Diretoria de Políticas de Combate ao Racismo.
Jailson de Souza e Silva, fundador da UNIperiferias, explicou a relação entre racismo, migração e democracia. “Precisamos compreender profundamente as bases que sustentam a perspectiva da democracia no mundo e como ocorre a reprodução da desigualdade que impede a vivência efetiva da democracia formal. O racismo é o fator primordial que molda a distribuição de riquezas no Brasil desde a colonização. No contexto da migração, o racismo também desempenha um papel significativo.”
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Evento fruto de pesquisa sobre migração
A Diálogo faz de uma pesquisa com os 12 , em cada um deles, uma organização foi escolhida pelo MIDEQ para produzir dados a fim de compreender melhor o fenômeno da migração. Uniperiferias, sediada na Maré, é a instituição parceira no Brasil. A pesquisa destaca o significativo fluxo não apenas de pessoas, mas também de recursos entre países do Sul Global. Enquanto a maior parte das pesquisas acadêmicas sobre o tema tem uma visão eurocêntrica e concentra-se nos fluxos do Norte para o Sul.
Para Jailson, quando se trata da migração africana e haitiana no Brasil, esses grupos enfrentam processo discriminatório. “O problema reside na forma cruel e discriminatória como tratamos os imigrantes negros em comparação com os imigrantes brancos. Nosso desafio, como sociedade civil, é pressionar cada vez mais o Estado para superar essa lógica e estabelecer novas bases para nossa democracia.”
Segundo o diretor da UNIperiferias, Felipe Moulin, o fluxo migratório Haiti-Brasil é representativo porque conecta dois países estruturados sob regime escravagista. “Isso ocorre porque ele conecta dois países: o primeiro a abolir a escravidão na América e o último a fazê-lo. Na época da revolução haitiana em 1808, houve um grande esforço, em 1904, para que essa notícia não cruzasse as fronteiras. As pessoas não queriam que a ideia haitiana, de que as pessoas negras poderiam ter liberdade, chegasse ao Brasil.”
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Moulin destacou que “O Haiti se tornou referência ao conquistar sua independência, afirmando que qualquer pessoa negra do mundo que quisesse ir para o Haiti seria bem-vinda assim que colocasse os pés no país. Não foi com essa mesma generosidade que o Brasil acolheu a população haitiana.”
Fernanda Leite da Silva