Varanasi, cidade onde o consumo de carne é proibido por lei, desponta como novo destino culinário
A peregrinação dos vegetarianos à procura de destinos saudáveis pode ser exaustiva, mas em Varanasi, eles encontram o nirvana gastronômico. A cidade, situada no nordeste da Índia, rota de quem busca iluminação espiritual, arrebata também pela criatividade na culinária vegetariana. Desde 2019, a venda e o consumo de carne são proibidos, em um raio de 250 metros de templos e locais históricos. A lei serviu de estímulo para que receitas locais ganhassem protagonismo nos cardápios. A tradição milenar, que associa simplicidade no preparo com riqueza de sabor, cativa o paladar dos visitantes e de chefs internacionais.
Varanasi, com sonoridade de um mantra, é o resultado da combinação dos nomes dos rios Varuna e Assi. É uma das cidades mais antigas do mundo e uma das sete cidades sagradas para os mais de 1,2 bilhão de hindus no planeta. No passado, chegou a ser chamada de Benares e Kashi, que significam cidade da vida. Simbólico para um lugar conhecido pelos rituais funerários às margens do rio Ganges. Para o hinduísmo, quem morre em Varanasi atinge mais rapidamente o moksha, a libertação de saṃsara, o fim do ciclo das reencarnações. A crença faz muitos indianos mudarem no final da vida para a cidade, à espera da morte. A morte não é temida. É celebrada. É um atalho para o paraíso.
A sua alma é o que você come
Na mitologia hindu, Shiva, deus indiano da destruição, regeneração e esperança, criou Varanasi. A maioria dos moradores da cidade são Shaivites, adoradores de Shiva. Por ser um deus vegetariano, na população predomina uma dieta sátvica, com essência vegetariana pura, baseada nos princípios ayurvédicos. A alimentação tem pouca gordura, com elevado teor nutricional, muita fibra, legumes e oleaginosas. As escrituras sagradas dizem que sua alma é o que você come. Comer bem é condição fundamental para viver bem, e os alimentos devem ser fonte de saúde, felicidade, equilíbrio e clareza mental, contribuir para a harmonização entre corpo e espírito, e não para o desajuste.
Convite a uma experiência sensorial
A gastronomia é a porta de entrada para a memória coletiva de um povo. Os temperos, as especiarias, expressam as particularidades de uma cultura, perpetuada nos pratos por gerações. Na Índia, aproximadamente, um terço da população é vegetariana. O que torna a culinária de Varanasi especial é a forte influência da espiritualidade. Além da carne, a cebola e o alho são proibidos. O açúcar e a cafeína devem ser evitados. Manter-se sátvico é primordial para quem deseja a salvação. Deve-se excluir os ingredientes rajásicos, que acreditam aumentar a agressividade, raiva e ansiedade, e os tamásicos, que estimulam a preguiça, reduzem a concentração e o exercício do bom senso.
Varanasi convida a uma experiência sensorial, com seus sabores, cheiros, cores, ruas movimentadas, piras ardendo em chamas, pôr do sol alaranjado, espiritualidade exuberante em cada esquina e escadarias. Por ser um destino distante e incomum, planejar a viagem com antecedência é importante. Pesquisar passagens aéreas em promoção, hospedagens, traçar o roteiro dos principais pontos que serão visitados e verificar os certificados de vacinas recomendadas são pontos importantes. Os melhores meses para viajar, com clima mais favorável e ameno, são de janeiro a março e de setembro a dezembro. Depois de estabelecida a programação, é momento de relaxar e se abrir para uma jornada inesperada e transformadora, diferente de tudo que você já viu.