Lançamento acontece no SESC 14 Bis, com presença de Maria Sil, Socorro Lira, Joselicio Júnior e Marginália Coletivo
No próximo dia 25 de junho, às 19h, o SESC 14 Bis, em São Paulo, recebe o lançamento de Da vida só tenho o fôlego, livro póstumo e inédito da poeta negra Vani dos Santos (1964–2021). Nascida na zona rural de Itariri (SP), Vani escreveu mais de 600 poemas ao longo de quatro décadas, mas faleceu vítima da COVID-19 antes de ver sua primeira obra publicada.
Organizada por sua filha, a artista e produtora cultural Maria Sil, a publicação resgata uma das vozes mais urgentes da escrevivência brasileira, com versos que tocam profundamente nas feridas do país: a fome, o racismo, a infância interrompida pelo agronegócio e o luto silenciado das mulheres negras do interior.
“Tinha vida amontoada nos restos da casa / Por que não tiraram o Sol / que não combina com esta desolação? / Os bois não precisam de poesia”, escreve Vani, sobre o momento em que sua casa foi demolida para dar lugar ao pasto — um marco traumático que originou sua voz poética.
Em outro poema, Desencanto, ela revela:
“Da minha infância sobraram a roseira do quintal e a vara de pescar / Eu digo a vara e não as pescarias / porque estas viraram sobrevivência / Acabou o encanto…”
A linguagem de Vani é simples, precisa e cortante. Seus poemas dialogam com autoras como Carolina Maria de Jesus, Maria Firmina dos Reis, e com obras contemporâneas como Torto Arado, de Itamar Vieira Junior. Para a escritora e compositora Socorro Lira, que assina o prefácio da obra:
“Ouso colocar Vani no mesmo lugar que nossas principais referências, como Carolina Maria de Jesus e Maria Firmina dos Reis. Ao ler mais dos seus poemas, percebo a presença de uma cronista a narrar, desmistificar e denunciar a realidade que a oprime como humana, cidadã da Terra, mulher negra, brasileira, de fé. É nesse lugar que Vani deve estar, ainda que agora, depois de seu retorno ao mistério.”
Uma noite para tornar visível a poeta que ninguém viu
O lançamento — batizado de “Vani dos Santos – A poeta que ninguém viu” — contará com a presença de Maria Sil, da prefacista Socorro Lira, do editor Joselicio Júnior (Dandara Editora), e de uma performance poética do coletivo Slam Marginália.
Mais que um evento, a noite é um gesto de reparação histórica e literária: Vani dos Santos escreveu por 40 anos sem ser publicada. Agora, sua palavra ocupa o centro. O livro está à venda no site da Dandara Editora, que vem se destacando por sua curadoria voltada à literatura negra e de impacto social.
Com apoio do ProAC (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo), a obra tem capa assinada por Dani Emiliano e representa a força de uma memória interrompida — mas não calada.