Dieta rica em ultraprocessados, sedentarismo, obesidade e alterações na flora intestinal estão entre os principais fatores de risco da doença, avalia oncologista do Hospital Santa Catarina – Paulista
A incidência de câncer colorretal em indivíduos com menos de 50 anos tem aumentado significativamente nas últimas décadas. Um estudo publicado na BMJ Oncology revelou que, entre 1990 e 2019, a incidência global de câncer de início precoce cresceu 79,1%, enquanto o número de mortes associadas aumentou 27,7%. De forma semelhante, uma pesquisa divulgada na The Lancet Oncology identificou um crescimento expressivo da doença em adultos jovens em 27 dos 50 países analisados, com destaque para Chile, Nova Zelândia, Porto Rico e Inglaterra, onde a taxa de incidência anual subiu entre 3% e 4%. Em contraste, os casos entre adultos mais velhos têm se estabilizado ou até diminuído em muitas dessas regiões.
No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a previsão é de aproximadamente 45.630 novos casos de câncer colorretal por ano entre 2023 e 2025, com um risco estimado de 21,10 casos por 100 mil habitantes. A doença ocupa a terceira posição entre os tipos de câncer mais frequentes no país, sendo mais incidente nas regiões Sudeste e Sul.
O coordenador médico do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Santa Catarina – Paulista, Dr. Antônio Cavaleiro, alerta que esse aumento da incidência entre jovens pode estar diretamente ligado a fatores como dieta rica em ultraprocessados, sedentarismo, obesidade e alterações na flora intestinal. “Os dados são um alerta importante, pois apontam uma tendência preocupante que pode impactar também os jovens brasileiros”, afirma o especialista.
Cavaleiro ressalta que a detecção precoce do câncer colorretal nessa faixa etária ainda é um desafio. “Por ser mais comum em adultos acima dos 50 anos, o câncer colorretal muitas vezes não é considerado em um primeiro momento quando pacientes jovens apresentam sintomas. Além disso, queixas como mudanças no hábito intestinal e fadiga costumam ser atribuídas a outras condições, retardando a busca por exames adequados”, explica o oncologista.
O câncer colorretal precoce está associado a diversos fatores de risco, entre eles o histórico familiar da doença, a obesidade, o sedentarismo e o consumo excessivo de álcool. Além disso, uma dieta pobre em fibras e rica em ultraprocessados e carne vermelha, bem como o uso excessivo de antibióticos que podem alterar a flora intestinal, também são aspectos relevantes. Doenças inflamatórias intestinais, como a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, aumentam ainda mais a vulnerabilidade. “A influência desses fatores na incidência do câncer colorretal precoce é evidente. Precisamos reforçar a conscientização e incentivar hábitos saudáveis desde cedo”, destaca o oncologista.
A prevenção passa, principalmente, por um estilo de vida mais equilibrado. Adotar uma alimentação rica em fibras, priorizando frutas, vegetais e grãos integrais, e reduzir o consumo de carnes processadas e ultraprocessados pode ser um primeiro passo. A prática regular de atividade física, o controle do peso corporal e a moderação no consumo de álcool são igualmente essenciais. Para aqueles com histórico familiar, o monitoramento deve ser mais rigoroso, com exames preventivos regulares e, quando indicado, testes genéticos. “A chave está na prevenção. Pequenas mudanças no dia a dia fazem toda a diferença na redução do risco da doença”, reforça Cavaleiro.
Sintomas de alerta para buscar avaliação médica
- Presença de sangue nas fezes
- Mudança persistente no hábito intestinal (diarreia ou constipação)
- Dor abdominal frequente ou sensação de evacuação incompleta
- Perda de peso inexplicável
- Fadiga, fraqueza e anemia crônica
A conscientização sobre os sinais e fatores de risco é essencial para frear o avanço do câncer colorretal entre jovens adultos. “A mudança no estilo de vida, aliada à atenção aos sintomas e ao rastreamento precoce, é fundamental para reverter essa tendência preocupante”, conclui o médico.