*Dr. Pedro Schestatsky
A ideia de ‘super humano’ é cada vez mais comum quando pensamos em atletas de alto rendimento, certo? Com o passar do tempo, as modalidades de esportes exigem cada vez mais dos seus praticantes, que podem chegar ao seu limite físico, quando não acompanhados por profissionais da saúde para conquistarem os objetivos. A linha entre o sucesso e o esgotamento é tênue. No entanto, a tecnologia pode ser uma forte aliada quando falamos em ter excelência, de maneira correta e saudável.
Os avanços tecnológicos estão presentes em toda a sociedade e não deve ser diferente no esporte. É sabido que cada corpo responde de maneiras diferentes aos estímulos, e a combinação de genética e ambiente pode determinar o sucesso do atleta de elite. Em sua grande maioria, durante a prática, o corpo passa por alterações cardíacas, musculares e respiratórias. Um atleta sob pressão é parecido com um paciente em estado de choque, pois o corpo está em condições extremas e nessas horas que podemos entender as maiores necessidades e pontos que podem ser melhorados.
Durante uma corrida, por exemplo, a temperatura chega a 60ºC dentro dos cockpits, além do uso da roupa antichamas, podendo ter etapas que ainda possuem 80% de umidade relativa no ar, onde o piloto fica exposto por cerca de duas horas. E não para por aí. Ainda nesta condição, é preciso ter a habilidade de reflexo e atenção, levando o corpo a uma tensão extrema. A desidratação e a fadiga nos seus picos, somados às dores no pescoço, costas e ombros, podem ser alguns dos prováveis sintomas que exigem uma preparação personalizada.
Os avanços recentes no campo da biologia molecular estão ampliando as possibilidades de uso de biossensores em diagnósticos clínicos, mas aqui se mostra como um grande aliado dos atletas e pode estar se tornando um diferencial incrível no desempenho de um atleta.
Os biossensores são dispositivos analíticos, sem marcadores, que integram uma biocamada, um transdutor elétrico, elementos de condicionamento e processamento do sinal elétrico. O objetivo desse instrumento é produzir um sinal elétrico que é proporcional em magnitude ou frequência à concentração do analito.
O uso dele permite que as reações sejam melhor analisadas em termos fisiológicos e biomecânicos, possibilitando a melhora de estratégias de treinamento e, portanto, melhora do desempenho. É possível obter detalhes como a aceleração e a posição de várias partes do corpo, frequência cardíaca, respiração e o nível de cansaço. Além disso, podemos comparar os dados com estatísticas e análises para obter uma imagem completa da condição física de um atleta e como seu corpo reage durante uma prova.
Além dos biossensores, a neuromodulação cerebral também se mostra uma prática com grandes resultados e mais um exemplo da aliança entre esporte de alto rendimento e medicina avançada.
A neuromodulação consiste em estímulos elétricos de baixa voltagem que são liberados por dois eletrodos colocados sobre a cabeça, de forma não invasiva. O efeito dos estímulos visual e elétrico é capaz de mudar a plasticidade cerebral e aliviar os sintomas de várias doenças, ajudar em reabilitação, aumentar a atividade cerebral, entre outros benefícios que resultam na melhora da performance no esporte. Quem não lembra dos atletas Usain Bolt e Michael Phelps ouvindo música nos seus “headphpnes” pouco s minutos antes de suas provas. Na verdade, estavam estimulando eletricamente seus cérebros com um dispositivo que hoje é regra em vários clubes de futebol e beisebol americanos. Aqui em Porto Alegre, o nadador gaúcho, Maurício Nascimento, utilizou sob minha supervisão a estimulação elétrica cerebral ao longo de dois meses por vinte minutos antes dos treinos. Resultado: mesmo aos 30 anos, idade considerada avançada para as competições, em 2018, Maurício melhorou seu desempenho e conquistou o primeiro lugar nas três provas de nado peito, bateu o recorde estadual e entrou no ranking dos dez melhores nadadores do Brasil na categoria.
Por fim, fica claro que o uso da medicina avançada sempre será um grande aliado dos esportes, e, principalmente, dos atletas de elite, mas ela não deve apenas focar na recuperação de lesões, como é mais comum encontrar, e, sim, na personalização e melhora da performance de cada atleta, que em seu dia a dia coloca o corpo no extremo.
Pedro Schestatsky é médico neurologista fundador das empresas LifeLab – Medicina de Precisão e NEMO – Neuromodulação