Do encontro entre as latas da percussão artesanal de Alex Nunes e a guitarra suja de Julio Camelo nasce a Big River – banda que vem chamando atenção na cena independente com sua mistura de folk, blues, rockabilly e referências da cultura popular nordestina. O duo lançou nesta semana o clipe de “A Presa”, faixa que antecipa seu disco de estreia e aprofunda ainda mais a estética mística e marginal que o grupo vem construindo.
O single, já disponível nas plataformas digitais, é um mergulho numa sonoridade que cruza o sertão com o litoral, misturando desejo, selvageria e mitologia. “A composição era sobre amor, mas virou outra coisa. Virou fome. Virou instinto”, conta Julio. A música narra a história de um ser-lobisomem que devora o outro sem sequer reconhecê-lo como humano – numa metáfora densa sobre relações, violência e desumanização.
Com forte influência da cultura recifense, especialmente do imaginário de “Recife Assombrado” e das alegorias do Carnaval, Julio traz para a Big River uma narrativa que flerta com o horror popular e a tradição oral. Ao lado de Alex, capixaba que carrega nas mãos o ritmo das ruas e praias do Espírito Santo, a dupla constrói um som ao mesmo tempo enraizado e inventivo, onde o batuque feito em lata se mistura a riffs distorcidos e histórias de arrepiar.
O clipe de “A Presa”, dirigido por Tommy Bellone, traduz essa atmosfera em imagens cruas e simbólicas, com estética inspirada no faroeste, no realismo mágico e no cinema de guerrilha. Tudo feito à mão, com o mesmo espírito independente que guia a trajetória da banda.
Com passagens por festivais como Mangue Negro, Orla Festival, Prainha Vive e Blues de Inverno, a Big River segue ocupando os espaços da cultura alternativa com uma proposta que valoriza o regional sem abrir mão da experimentação. Suas referências vão de Luiz Gonzaga a Raul Seixas, de Elvis a Johnny Cash – mas tudo com sotaque próprio.
“A Presa” é mais do que uma música – é um manifesto rítmico de quem sabe contar histórias com o pé no barro e a cabeça nas estrelas.