“Se eu tô, eu tô” é o disco de estreia do cantor, violonista, guitarrista e compositor Allan Spirandelli. O álbum traz 10 faixas autorais que transitam pelos diferentes universos musicais responsáveis por influenciar o autor que integra e integrou grupos como Samuca e a Selva, Ba-Boom e Allumar, além das atuações como músico convidado em outros trabalhos.
Guiando as temáticas das canções, assuntos pertinentes à vida como ela é, amores, natureza, saudades, incômodos e utopias.
Produzido por Swami Jr, que também toca o violão de 7 cordas, violão de aço, violão requinto, guitarras, baixo e synths, o disco conta ainda com a participação de Kabé Pinheiro nas percussões e bateria. Allan Spirandelli traz os vocais e soma nos violões de 7 e 6 cordas, guitarras e synths.
Contemplado pela Lei Aldir Blanc, o registro foi realizado à distância, respeitando os protocolos vigentes durante o primeiro semestre de 2021 – um dos momentos mais críticos da pandemia. Nesse processo, cada artista envolvido gravou em um estúdio diferente, sendo eles aqui nomeados: C4, Outra Praia, Vida em Música e Dança e Dedo Verde
A mixagem é do Luis Lopes e masterização de Homero Lotito.
Ouça aqui: https://www.youtube.com/watch?
“SE EU TÔ, EU TÔ” POR SAMUEL SAMUCA
Como boa cria do ABC paulista que é, Allan Spirandelli por vezes se autointitula “operário da música”, visto que há quase duas décadas integra, empunhando suas guitarras e violões, trabalhos mais reconhecidos por público e crítica, entre eles Samuca e a Selva, Ba-boom, Coletivo Quebrante e Allumar. Mas se o auto-título de Allan lhe cabe, com certeza não se trata de operário fabril, desses que executam trabalhos mais mecânicos nas linhas de produção. Talvez o mais correto para defini-lo seria “artesão”, dos que laboram bem em coletivo e ainda melhor ao som da solidão, talhando a música e o fazer canção com minúcia, preciosismo e um tanto valoroso de suor.
E é em “Se eu tô, eu tô”, seu álbum de estreia, que esse lado artesão se revela, trazendo como ingrediente central, para além do sempre competente trabalho às cordas, a beleza da voz grave e das letras de fácil compreensão e grande qualidade poética. Se já era difícil passar despercebido por Allan enquanto sideman, agora ficou oficialmente impossível.
O disco propõe um passeio por um balaio bonito de reflexões, sentimentos e memórias afetivas do compositor, revelando um lado íntimo e uma sensibilidade que, de forma muito natural, transporta os ouvintes a uma experiência vívida e singela. Ouvir o álbum é quase como se encontrar com Allan em uma tarde na varanda, com boa prosa e café.
O álbum é produzido por ninguém menos que Swami Jr. e traz também as percussões do genial Kabé Pinheiro. Os arranjos são de Swami e do próprio Allan, reforçando ao ouvinte o caráter íntimo e bem apropriado do trabalho, em uma parceria que tinha tudo pra dar certo. E deu.
A abertura dos trabalhos se dá na instigante “Se eu tô, eu tô”, canção que dá nome ao disco e foi escolhida para ser o single de lançamento do mesmo. A música logo de cara mostra a que veio, com o violão afiado e percussivo de Allan fazendo a cama para os versos reflexivos ante à beleza da impermanência: “Eu já fui solto, molinho. Tipo ‘frentex’, soltinho. E não consigo mais. Hoje eu to duro, brutinho. Peito fechado, durinho. E é assim que estou em paz”. Embebida em uma harmonia que lembra os temas clássicos da música nordestina, a música foge do óbvio propondo uma transa rítmica moderna que não se define exatamente, mas que provoca o ouvinte a acompanhar um Allan “soltinho” enquanto canta sua filosofia de acolhimento à beleza das mudanças, vestida em versos espertos e carismáticos.
Após o abre alas, o correr do álbum se dá com “Maria”, canção que Allan dedica à sua avó, inebriando o ouvinte em uma saudade que faz chorar. E por falar em saudade, em “Mariana” o autor pinta de cores mais alegres o sentimento, denotando a perspectiva real do reencontro, cumplicidade e um amor romântico daqueles bonitos de se ver. Em “Incomodos”, Allan tece críticas ao momento social de um Brasil endurecido e à deriva, tudo isso sem perder a ternura, vestindo a canção em um chachachá delicioso. Em “Implacável”, o artista reflexiona sobre a força e a dureza do tempo e na sequência apresenta “Rente”, outra canção escolhida como single do álbum, que trata sobre o conflito entre razão e emoção em um belíssimo arranjo de cordas e vocais muito bem executados por Allan.
“Se eu tô, eu tô” segue em sua reta final com “Chão de Terra”, “Confidentes” e “A Revoada”, essa última narra cenas da vida simples no campo com uma sensibilidade ímpar, o que torna difícil não querer ouvi-la de novo. Fechando o álbum, “Esse tempo todo”, traz um lado mais sensual de Allan em um xote irresistível, de letra fácil e um balanço que convida o ouvinte a encerrar dançando a experiência proposta. Nada melhor para um disco que propõe tantos sentires. Vale cada segundo do play e este é um lançamento do selo Relva Music.