Os cemitérios são parte fundamental da história de uma cidade, estado ou país. Eles constituem espaços de memória e são importantes locais públicos. Alguns deles chegam a abrigar obras de arte. Outros, por sua vez, contam apenas com áreas comuns destinadas aos rituais fúnebres.
Com o avanço da pandemia de Covid-19, os cemitérios se tornaram alvo de pautas diárias nos meios de comunicação. O setor funerário, aliás, foi um dos mais afetados em virtude dos picos de mortes decorrentes da pandemia.
De acordo com a Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Arpen), houve um crescimento de 14,96% no número de óbitos em 2020, em comparação com o ano anterior. Foram registrados 1,45 milhão de mortos, contra 1,26 milhão em 2019.
O Brasil registrou, em 2020, a maior taxa de óbitos de sua história. Infelizmente, apesar do avanço da vacinação, os números não param de crescer: até o início de outubro de 2021, o consórcio de imprensa informou que o País registrava mais de meio milhão de mortes pela doença.
Essa nova realidade pandêmica impactou o setor funerário e os trabalhadores dos cemitérios. Em determinados momentos da crise, foi necessário criar diversas estratégias para evitar um colapso e conseguir dar conta da demanda. Isso afetou a rotina dos colaboradores destes espaços, principalmente os coveiros.
Um exemplo é o cemitério da Vila Formosa, em São Paulo, o maior do Brasil. No pico de mortes por Covid-19, em abril de 2021, foi necessário iniciar um turno extra de enterros noturnos. A medida foi crucial para lidar com os mais de 300 enterros realizados por dia.
Mas, afinal, o que os cemitérios têm além de espaços de para sepultamentos e ritos de despedida? Para reconhecer a importância desses equipamentos, principalmente em momentos de crise como o que vivemos agora, listamos algumas curiosidades de dez cemitérios que estão entre os maiores do Brasil. Confira!
Cemitério da Vila Formosa (São Paulo – SP) – 763 mil m²
Localizado no bairro que tem o mesmo nome, na zona leste da capital paulista, o Cemitério da Vila Formosa foi inaugurado em 1949. É o maior cemitério da América Latina. Além disso, é a segunda maior necrópole do planeta.
Com mais de 763 mil metros quadrados de extensão, é considerada a quarta maior área verde da cidade de São Paulo. Desde sua fundação, estima-se que mais de 1,5 milhão de sepultamentos tenham sido realizados.
Por ser um cemitério mais buscado por famílias de pessoas das classes C, D e E, não há registro de pessoas famosas que tenham sido sepultadas no Cemitério da Vila Formosa.
Entretanto, acredita-se que as valas comuns da necrópole tenham recebido vítimas da repressão que assolou o País durante o período da ditadura militar (1964 – 1985).
Cemitério São Francisco Xavier (Rio de Janeiro – RJ) – 441 mil m²
Maior necrópole da área conhecida como Cemitério do Caju, no bairro de mesmo nome da zona norte da capital carioca, o São Francisco Xavier é o mais extenso cemitério do Estado do Rio de Janeiro.
Fundado em 1851, foi administrado pela Santa Casa de Misericórdia do Estado por mais de 150 anos. Anteriormente, na mesma área do São Francisco Xavier existia um cemitério para escravos, conhecido como Campo de Misericórdia, usado desde 1839.
No início das atividades da necrópole, a maior parte dos enterros era de habitantes da zona norte da cidade. Mas, por estar muito próximo ao bairro de São Cristóvão, é possível encontrar sepulcros de figuras famosas durante o período do império.
Entre as personalidades mais notáveis enterradas no São Francisco Xavier estão José Maria da Silva Paranhos (visconde de Rio Branco), Luísa Rosa Avondano Pereira (benfeitora da Santa Casa) e Benjamin Oliveira (conhecido como o primeiro palhaço negro do Brasil).
Cemitério da Vila Nova Cachoeirinha (São Paulo – SP) – 350 mil m²
Fundado em 1968, o cemitério da Vila Nova Cachoeirinha está localizado na zona norte da cidade de São Paulo. Foi construído para suprir as necessidades dos moradores da região, que muitas vezes precisavam ir até a Vila Formosa para enterrar seus entes queridos.
O local costuma ser procurado por moradores da região, que é habitada principalmente por pessoas das classes C, D e E. Não há registro de personalidades que tenham sido sepultadas lá.
Cemitério São Luiz (São Paulo – SP) – 326 mil m²
O Cemitério São Luiz está localizado próximo aos bairros de Capão Redondo e Jardim Ângela, no extremo sul do município de São Paulo.
Um dos diferenciais deste cemitério é a existência de um espaço afro. Há uma área dentro da necrópole reservada para os sepultamentos de pessoas com religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé. É um dos únicos do gênero em toda a América Latina.
Um triste título que o Cemitério São Luiz carrega é de ser um dos mais violentos do mundo: é conhecido por receber muitas vítimas de homicídio. Estima-se que 80% dos sepultados tenham sofrido mortes violentas. Uma reportagem de 2016 realizada pela Folha de S.Paulo mostrou que, desde 1981, 90 mil crianças haviam sido enterradas lá.
A necrópole também virou tema de documentário em 2003. “Cemitério São Luiz”, dirigido por Ana Paul, é um curta-metragem que conta histórias de famílias que tiveram seus entes queridos enterrados no local. O documentário foi premiado no concurso Mídias Digitais do programa Petrobras Cinema.
Cemitério Municipal da Paz (Belo Horizonte – MG) – 289 mil m²
Maior necrópole da capital mineira, é um cemitério público administrado pela prefeitura de Belo Horizonte. Fundado em 1697, é o mais extenso da cidade e do Estado de Minas Gerais.
A extensa área verde faz com que o Cemitério da Paz seja um local muito procurado por famílias como um ponto de lazer. Isso mostra a versatilidade do espaço como um importante equipamento urbano para a população da cidade.
Cemitério Dom Bosco (São Paulo – SP) – 254 mil m²
Inaugurado em 1971, o Cemitério Dom Bosco (ou Colina dos Mártires) está localizado na extrema zona norte da cidade de São Paulo, na divisa com o município de Caieiras. Recebe, principalmente, sepultamentos dos moradores da região.
O Cemitério Dom Bosco é um ponto muito famoso na história brasileira por ter sido utilizado como vala clandestina durante a ditadura militar. Familiares de mortos e desaparecidos políticos puderam, em 1990, acompanhar a abertura da vala para poder identificar os corpos e dar a eles uma despedida respeitosa e merecida.
Na ocasião, foram encontradas 1.049 ossadas, sendo que 14 delas possivelmente pertenciam a militantes desaparecidos durante o final dos anos 1970.
O processo de identificação segue até hoje e a abertura da vala é considerada um dos mais importantes marcos na luta pelo reconhecimento das violações de direitos humanos ocorridos durante o regime autoritário.
Cemitério do Araçá (São Paulo – SP) – 222 mil m²
Fundado em 1887, o Cemitério do Araçá é um dos mais tradicionais de São Paulo. Está localizado em uma região nobre da capital paulista, entre os bairros de Pinheiros e Pacaembu, no distrito da Consolação.
A construção deste cemitério está diretamente relacionada ao crescimento da presença de imigrantes italianos em São Paulo. Eles exigiam um local para o enterro de seus mortos, prestar homenagens já que o elitizado Cemitério da Consolação não era uma opção viável à época.
Apesar de ter sido criado para ser uma opção acessível para as famílias mais pobres sepultarem seus familiares, o Cemitério do Araçá passou por um processo de gentrificação e, atualmente, é um dos mais caros e elitizados da cidade.
Há muitas personalidades notáveis enterradas no Cemitério do Araçá, além de mausoléus e jazigos imponentes. Entre os destaques estão a atriz e comediante Nair Bello, o jornalista e político Assis Chateaubriand, além do jogador de futebol Dener Augusto, considerado o último grande craque da Portuguesa.
Cemitério do Campo Santo (Salvador – BA) – 152 mil m²
O Cemitério do Campo Santo é um dos mais antigos e tradicionais de Salvador. Foi inaugurado em 1836, mas teve suas atividades iniciadas apenas em 1844.
O atraso no início das operações se deu por falta de aceitação da comunidade na época. O Campo Santo foi criado após a proibição de sepultamentos em igrejas e conventos, sendo invadido no ano de sua fundação e destruído por adeptos e simpatizantes de irmandades religiosas que eram contrários à existência do espaço e da nova lei.
Em 1840, a Santa Casa de Misericórdia da Bahia adquiriu a propriedade e iniciou a reforma no mesmo ano. A instituição é responsável pela administração da necrópole até hoje.
Muitas personalidades baianas estão enterradas no Cemitério do Campo Santo, como o médico Oscar Freire; o psiquiatra Juliano Moreira; a educadora Henriqueta Martins Catharino; e o político Antônio Carlos Magalhães.
Cemitério de Santo Amaro (Recife – PE) – 145 mil m²
Inaugurado em 1851, o Cemitério de Santo Amaro é o maior de Recife, a capital pernambucana. Foi criado para receber as vítimas da febre amarela que não poderiam ser enterradas nas igrejas, conforme o costume da época.
Atualmente, é considerado uma das principais exposições ao ar livre do Estado de Pernambuco. Possui centenas de mausoléus e jazigos imponentes que fazem do espaço um dos cemitérios mais bem elaborados do Brasil.
Entre os túmulos mais notáveis estão os do cantor e compositor Chico Science; dos políticos Joaquim Nabuco, Eduardo Campos e Miguel Arraes; da jornalista Cristina Tavares; entre muitos outros.
Cemitério Santa Cândida (Curitiba – PR) – 132 mil m²
Inaugurado na capital paranaense em 1957, o Cemitério Santa Cândida está localizado no bairro Santa Cândida, na região norte da cidade. É a maior necrópole em extensão de Curitiba, com mais de 132 mil metros quadrados.
Esses dez cemitérios fazem parte da lista dos maiores do Brasil e reservam muita história e inúmeras particularidades a serem exploradas.