Em 1895, foi realizada a primeira exibição de um filme pelos irmãos Auguste e Louis Lumière. A película era intitulada La Sortie de L’usine Lumière à Lyon e registrava a saída dos funcionários do interior da empresa Lumière, na cidade de Lyon, na França. Considerado por muitos como o primeiro filme a ser projetado em público, o curta tinha cerca de 45 segundos de duração. De lá para cá, a sétima arte impressiona e cativa fãs no mundo inteiro, buscando na literatura inspiração para agradar a um público cada dia mais exigente. Sim, os livros são a matéria-prima de muitas produções cinematográficas embora, para muitos, há uma dicotomia na relação entre as duas linguagens artísticas. O que escolher? Assistir ao filme ou ler o livro?
Fato é que são produtos distintos. Obras literárias primam pelos detalhes, exercitam a imaginação e a criatividade do leitor. Não é verdade que um livro nos faz viajar? Já a magia do cinema está na materialização das cenas, no som, no cenário, na capacidade de dar vida às páginas. Que fique bem claro que as vantagens apontadas por uns são consideradas desvantagens por outros.
É importante ter em mente que livros que são adaptados para o cinema ganham uma nova interpretação, um novo olhar que, muitas vezes, não é do autor, mas do produtor. E não há mal nenhum nisso. A obra Silêncio dos inocentes, de Thomas Harris, foi sucesso nas livrarias e, sob o olhar do cinegrafista Jonathan Demme, obteve grande êxito também na sétima arte. E a saga do bruxo Harry Potter, que encantou leitores e espectadores de todo o mundo?
Uma obra cinematográfica perde nessa comparação quando é incapaz de extrair a essência do livro, quando o profissional responsável não consegue extrair a emoção das palavras do autor, quando a impressão do espectador – antes leitor – é de que o roteirista nem sequer leu o livro. Mas, neste universo, também há uma preocupação genuína de muitos profissionais para evitar a decepção do público. Na série O Gambito da Rainha, exibida pela plataforma Netflix, os produtores convidaram especialistas do xadrez para garantir a veracidade dos lances realizados pelos atores. Assim, alguém que conheça o jogo não vai se distrair com jogadas imprecisas e que não retratam a realidade de um tabuleiro fora das telas.
E se tivéssemos uma terceira opção: assistir ao livro. Parece maluco? Talvez não. Ler é permitir que a imaginação interprete as palavras para “criar” emoções, torná-las até mesmo “palpáveis”. Não há espaço para um ato autômato, é preciso total envolvimento ao percorrer cada linha, traduzindo com a alma o que os olhos captam. É assim que “assisto ao livro”, buscando nas entrelinhas os sentimentos de cada personagem. Difícil, depois de anos nesse exercício, não me envolver com tantas vidas, tantas situações, não vibrar ou sofrer com cada herói ou heroína, não compartilhar das vitórias e dos fracassos de cada personagem.
E, assim, de emoção em emoção, coleciono os filmes que li e os livros a que assisti, sem distinção, apenas pelo prazer de avançar mais um capítulo ou dar o “play” mais uma vez.
| Tânia Lins é graduada em Administração de Empresas e pós-graduada em Língua Portuguesa, Comunicação Empresarial e Institucional e Jornalismo Digital. Atua há mais de dez anos na área editorial, com experiência profissional e acadêmica voltada à edição, preparação e revisão de obras, ao gerenciamento de produção editorial e à leitura crítica. Atualmente, é coordenadora editorial na Editora Vida & Consciência e coach literária.