Desde 2018, as redes sociais emergiram como um dos principais espaços de comunicação e informação no cenário eleitoral brasileiro. Com o aumento do acesso à internet, tanto eleitores quanto candidatos passaram a usar essas plataformas como ferramentas essenciais para engajamento e estratégia. Atualmente, é comum que os candidatos sigam automaticamente aqueles com os quais se identificam, buscando informações e interagindo nas redes para fundamentar suas decisões de voto.
Esse crescimento digital transformou a internet em um verdadeiro palco político, substituindo práticas tradicionais como campanhas em quadrinhos e eventos presenciais. As pessoas consomem informações não apenas dos candidatos, mas também de seus apoiadores, que compartilham conteúdo relacionado às campanhas. Nesse novo ambiente, quem domina as redes sociais leva vantagem. Um exemplo notável é Pablo Marçal, que, mesmo sem o suporte da política tradicional (como tempo de TV ou fundo eleitoral), destaca-se nas redes e se coloca como um forte concorrente na disputa pelo segundo turno.
“Com a recente queda da propaganda eleitoral gratuita na TV e no rádio, as campanhas passaram a intensificar suas estratégias digitais. Candidatos como Ricardo Nunes, que busca se firmar como representante da direita, e Guilherme Boulos, que se posiciona na esquerda, mudaram suas abordagens online após o debate da Band. Nunes associa-se a figuras como o governador Tarcísio e o ex-presidente Jair Bolsonaro, enquanto Boulos utiliza suas redes para reafirmar sua trajetória e atrair o eleitorado de esquerda. Ambos reconhecem que, na reta final, a batalha nas redes sociais se torna crucial para alcançar e mobilizar seus apoiadores” relata o cientista político Elias Tavares.
O investimento financeiro em impulsionamento nas redes sociais é um fator determinante nos resultados eleitorais. Até o momento, os gastos com impulsionamento no Facebook somam impressionantes R$ 81.937.399,18, e esse valor não reflete o total, pois muitas campanhas contratam agências para otimizar seus conteúdos. Esse impulso é vital em um cenário político cada vez mais segmentado, permitindo que candidatos direcionem mensagens específicas a diferentes grupos de eleitores. Com empresas como Google e YouTube optando por não permitir o impulsionamento de conteúdo político, o Meta se tornou o principal campo de batalha digital.
“Entretanto, a polarização política nas redes sociais também traz desafios. Esse ambiente segmentado amplifica a visão extremada dos candidatos, dificultando o debate sobre propostas concretas. Assim, Boulos se posiciona na extrema esquerda, enquanto Nunes busca consolidar sua imagem no centro-direita. Essa polarização, embora mobilize apoiadores fervorosos, prejudica a qualidade do debate público, limitando a discussão a questões simplificadas” explica Elias.
A dependência das redes sociais nas campanhas eleitorais gera consequências significativas para a democracia. Por um lado, democratiza o acesso à informação, permitindo que vozes antes marginalizadas participem do debate político. Por outro, os riscos são palpáveis: a disseminação de fake news e discursos de ódio, além da influência do poder econômico, que favorece quem tem mais recursos para investir em publicidade.
“Contudo, com a crescente importância das redes sociais, a tendência é que esses espaços ganhem ainda mais relevância nas campanhas futuras. No entanto, será necessário um esforço conjunto para regulamentar esses ambientes, garantindo um debate político mais saudável e equilibrado” conclui Elias.
Elias Tavares
Cientista Político
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