Cena da atriz Jocasta Germano
O espetáculo pontua os onze anos do Núcleo de Artes Cênicas (NAC) dedicado ao trabalho artístico-pedagógico, coordenado por Lee Taylor, e investiga sob uma perspectiva crítica, a questão da branquitude no Brasil a partir do perfil de moradores de condomínios de classe média-alta.
“Espetáculo contestador e vigoroso”
Denise Stoklos
O espetáculo tem como tema as relações condominiais, que foram objeto de uma pesquisa documental orientada pela direção, realizada pelo elenco, e que deu origem ao diálogo dramatúrgico entre Lee Taylor e Jô Bilac.
A partir desse tema, a obra aborda questões de classe e poder, dominação e opressão, desigualdade e exclusão social, colonialismo e racismo, problemáticas que resultam da construção histórica das identidades sociais no Brasil.
Conceitos e reflexões de alguns autores fomentaram o processo de criação e embasaram a dramaturgia. As principais referências para o trabalho são: o conceito de “lógica do condomínio”, do psicanalista Christian Dunker; a abordagem sobre colonialismo e racismo, proposta pelo filósofo, psiquiatra e ativista político Frantz Fanon; e as reflexões acerca do pacto narcísico da branquitude, elaboradas pela psicóloga e ativista Cida Bento.
A pesquisa parte da observação de que, nos grandes centros urbanos, a vida em condomínios de classe média-alta reforça a ideia de que é possível se isolar das diferenças e dos conflitos sociais, ao mesmo tempo em que cria uma sensação de segurança em relação ao mundo exterior. A narrativa apresentada no espetáculo expõe como a subjugação e a marginalização de grupos sociais são frequentemente justificadas por meio de discursos que naturalizam as desigualdades e reforçam as hierarquias. Essa análise, transmutada em discursos e imagens simbólicas na cena, pode ser útil para explicitar de modo sensível como as relações de poder se reproduzem em diferentes escalas e contextos sociais, desde o nível mais imediato de interações cotidianas até às estruturas mais amplas de dominação social.
A temporada de apresentações tem o objetivo de compartilhar uma obra produzida a partir de pesquisa documental contemporânea, que aborda questões urgentes e relevantes da sociedade brasileira. O intuito do espetáculo é provocar reflexões inerentes à contemporaneidade e investigar a alteridade em sentido social, tema que foi desenvolvido na pesquisa criativa, propondo uma reflexão sobre maiorias minorizadas em nossa sociedade.
Partindo deste pressuposto: um condomínio residencial exclusivo de alto padrão e de segurança máxima, o espetáculo se desdobrará em várias camadas de espaço/tempo não lineares que revelarão complexidades e contradições presentes na ocupação inicial e na formação deste nosso território, o “condomínio” Brasil.
NÚCLEO DE ARTES CÊNICAS (NAC)
O Núcleo de Artes Cênicas (NAC), coordenado por Lee Taylor, celebrou em abril onze anos ininterruptos de um trabalho artístico-pedagógico que alia a pesquisa cênica, criação artística e a formação atoral.
Ao longo de sua existência, o NAC promoveu a criação de oito cursos de atuação presenciais, dois cursos online, sete espetáculos teatrais, dois espetáculos de dança-teatro, e uma performance. Desse modo, o NAC se consolidou no cenário cultural paulista como um significativo espaço de formação, investigação e produção das Artes Cênicas.
Nossos procedimentos de formação e criação estimulam discussões sobre a inserção social e histórica do artista e sobre o papel da arte na coletividade.
O NAC sempre se dedicou a abordar temas sensíveis e urgentes na sociedade brasileira em seus processos criativos. Isso incluiu questões como a opressão de gênero e raça em “LILITH S.A.” (2014), marginalização e estigmatização em “DOC. (des)prezados” (2014), precarização da educação pública em “DOC. educação” (2015), pessoas em situação de rua em “DOC. eremitas” (2016), vício afetivo em “DOC. A.A.A.” (2017) e as condições do trabalho doméstico feminino em “DOC. malcriadas” (2020).
FICHA TÉCNICA
Realização: Núcleo de Artes Cênicas (NAC)
Idealização, coordenação, concepção, dramaturgismo e direção: Lee Taylor
Diálogo dramatúrgico: Jô Bilac
Colaboração dramatúrgica: Alex Araújo
Assistente de direção: Vandressa Moço
Elenco: Dandara Terra, Federico Torres, Jocasta Germano, Leonardo Alcantara, Murilo Bueno, Vandressa Moço e Victoria Cavalcante
Musicistas: Gabriel Salazar, Lisi Andrade, Murilo Bueno e Pedro Maciel
Preparação vocal: Lucia Helena Gayotto
Desenho de luz: André Boll
Direção musical: Luiz Gayotto
Criação de vídeo: Ciça Lucchesi
Pesquisa audiovisual: Dandara Terra, Leonardo Alcantara e Pedro Maciel
Design gráfico: Pedro Maciel
Direção de arte, cenografia, figurino e adereços: Lee Taylor
Serviço cenotécnico: Casa Malagueta
Costureira: Lindaci Oliveira
Assistentes de Palco: Clara Gregori (Tó’qui!Ô) e Higor Passion
Técnico e operador de som: Lucas F. Paiva
Técnicas e operadoras de luz: Aline Sayuri e Lu Maya
Operadora de vídeo: Luisa L’Hénaff
Fotos: Marcelo Villas Boas
Assessoria de comunicação: Bárbara Jadeh e Adriana Monteiro
Produção: Núcleo de Artes Cênicas (NAC)
Assistente de produção: Clara Gregori (Tó’qui!Ô)
SINOPSE
Luxo pesado, segurança máxima, lazer absoluto – o paraíso do Éden aos pés da serpente: Bem-vindos ao “Condominium Ilha Tropical”, um arranha céu onde o inferno é o limite. Entre os muros de um labirinto vertiginoso, personagens desfilam como alegorias delirantes num reflexo violento de uma sociedade privilegiada, territorialista e selvagem.
ILHAS TROPICAIS
Duração: 120 min
Classificação: 14 anos
Gênero: comédia de maus costumes
SERVIÇO
Centro Cultural Olido – Sala Olido
Av. São João, 473, Do térreo ao 2º andar, Centro Histórico de São Paulo, São Paulo/SP – 01035000
293 lugares
Ingressos gratuitos na bilheteria
Dias 7 e 8/6
Sexta e sábado: 19h