Com o envelhecimento acelerado da população brasileira, hoje, mais de 30 milhões de pessoas têm 60 anos ou mais — cresce a demanda por profissionais de saúde preparados para lidar com os desafios da longevidade. Nesse contexto, a enfermagem geriátrica se consolida como uma das áreas mais essenciais da assistência moderna: um campo que exige técnica apurada, sensibilidade humana e profundo respeito à autonomia do idoso.
Um olhar que vai além da doença
Mais do que tratar sintomas, o enfermeiro geriátrico atua para preservar a funcionalidade, o bem-estar e a dignidade da pessoa idosa. “É fundamental compreender o idoso como protagonista do seu cuidado, e não como alguém incapaz de decidir por si mesmo”, explica a enfermeira e pesquisadora Dra. Rebeca Almeida, doutora em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Dra. Rebeca cita um estudo publicado na Revista de Pesquisa em Saúde (2016), do qual participou, que alerta para um problema recorrente nas instituições de saúde: a infantilização dos idosos. “Muitas vezes, o idoso é tratado como se fosse uma criança, com voz passiva nas decisões sobre seu tratamento. Isso representa uma forma de desrespeito e compromete sua autonomia”, afirma.
A atuação na enfermagem geriátrica exige preparo especializado. O profissional deve compreender as mudanças fisiológicas e emocionais que acompanham o envelhecimento, desde as fragilidades físicas até as alterações cognitivas e sociais. Além da graduação, especializações em Gerontologia e Saúde do Idoso, e certificações em cuidados paliativos, reanimação e manejo de pacientes críticos são diferenciais valorizados.
“Cuidar de um idoso é cuidar de múltiplas dimensões: física, emocional, social e espiritual. Isso requer uma equipe capacitada e, principalmente, empatia”, ressalta Dra. Rebeca Almeida, que também é tutora nacional do Método Canguru e possui certificações internacionais em enfermagem e saúde pública.
Com mais de 175 citações científicas e um livro publicado em seis idiomas, Dra.Rebeca Almeida se tornou referência acadêmica internacional. Seu percurso inclui uma trajetória de destaque no sistema público de saúde canadense (CIUSSS West-Central Montreal), onde foi promovida duas vezes em menos de três anos. Lá, coordenou equipes multidisciplinares e supervisionou residências de longa permanência para idosos, consolidando sua experiência em gerenciamento de casos clínicos complexos.
“O Canadá investe fortemente na autonomia do idoso, no cuidado domiciliar e na integração entre diferentes profissionais. Essa visão é o futuro da assistência geriátrica — e o Brasil precisa trilhar esse caminho”, observa.
O futuro do cuidado com o idoso no Brasil
O envelhecimento populacional traz desafios que vão muito além da saúde: envolve planejamento familiar, políticas públicas e mudanças culturais. Segundo dados do IBGE, em 2030 o número de idosos no país deve superar o de crianças e adolescentes. A presença de enfermeiros preparados para lidar com essa realidade será decisiva.
Para Rebeca Almeida, o país precisa formar mais especialistas e humanizar a assistência:
“O cuidado ao idoso deve ser pautado pela escuta e pelo respeito. A técnica é indispensável, mas o verdadeiro diferencial está em enxergar o idoso como sujeito de direitos, com história, desejos e autonomia.”
Programas de capacitação em enfermagem geriátrica vêm ganhando força em universidades e hospitais brasileiros, com foco em práticas interdisciplinares, ética, segurança do paciente e liderança. O objetivo é preparar profissionais capazes de atuar tanto em residências de longa permanência quanto em atendimento domiciliar, hospitais e unidades de reabilitação.
A aposta é clara: quanto mais bem preparados forem os profissionais, mais qualidade de vida terão os idosos. Afinal, envelhecer com dignidade é um direito — e cuidar bem é um dever coletivo.
