Durante os primeiros meses de vida, é comum que bebês apresentem desconfortos digestivos, alterações na pele ou até quadros respiratórios leves. No entanto, quando esses sintomas se tornam recorrentes ou intensos, é importante considerar a possibilidade de uma alergia alimentar. Uma das mais comuns na infância é a Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV).
Reconhecer os sinais iniciais dessa condição é fundamental para garantir o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, evitando complicações e promovendo o bem-estar da criança.
Entenda o que é APLV
É uma reação do sistema imunológico às proteínas presentes no leite de vaca, principalmente a caseína, a alfa-lactoalbumina e a beta-lactoglobulina. Quando um bebê com APLV entra em contato com essas proteínas, seu organismo as reconhece como “invasoras” e desencadeia uma resposta inflamatória que pode afetar diferentes sistemas do corpo, como o gastrointestinal, o respiratório e a pele.
Essa condição é mais comum em bebês que estão sendo amamentados com fórmulas à base de leite de vaca, mas também pode ocorrer em lactentes alimentados exclusivamente com leite materno, já que traços da proteína podem ser transmitidos pela dieta da mãe.
Sinais que merecem atenção
Nem sempre os sintomas da desta condição são claros e imediatos. Muitas vezes, eles aparecem de forma progressiva e podem ser confundidos com condições comuns da infância, como refluxo fisiológico, cólica, viroses ou até intolerância à lactose.
A seguir, veja os principais sinais de alerta que podem indicar APLV:
1. Distúrbios gastrointestinais frequentes
Um dos primeiros sistemas a ser afetado é o digestivo. Bebês com com a condição podem apresentar episódios repetidos de vômito, diarreia persistente, cólicas intensas e irritabilidade após as mamadas. Em alguns casos, há presença de sangue nas fezes, o que é um sinal importante e requer avaliação médica imediata.
Esses sintomas costumam surgir de forma recorrente e não melhoram com medidas simples, como ajuste da posição para amamentar ou troca de fórmula por marcas mais comuns. Quando associados a perda de peso, dificuldade para ganhar massa corporal e recusa alimentar, o quadro se torna ainda mais sugestivo.
2. Alterações na pele
As manifestações cutâneas também são comuns. A dermatite atópica, por exemplo, pode surgir de forma persistente e com difícil controle, mesmo com o uso de pomadas indicadas. Urticária, ressecamento intenso e vermelhidão em regiões como rosto, tronco e dobras também podem aparecer.
Essas reações, especialmente quando associadas a sintomas digestivos, aumentam a suspeita de APLV e justificam uma investigação mais aprofundada com o pediatra ou alergista.
3. Sintomas respiratórios não explicados
A presença de chiado no peito, tosse crônica ou episódios de dificuldade respiratória em bebês pequenos também pode estar associada à alergia à proteína do leite de vaca. Esses sintomas costumam ser confundidos com bronquiolite, asma ou infecções de repetição, principalmente quando há histórico familiar de doenças respiratórias.
Em crianças com APLV, esses sintomas aparecem principalmente nas formas de alergia mediada por IgE, em que a resposta imunológica é mais rápida e intensa.
Diferenças entre APLV e outras condições comuns
Nos primeiros meses de vida, sintomas como vômitos, irritabilidade, diarreia e cólicas podem levantar suspeitas de alergia alimentar. No entanto, é comum que esses sinais estejam relacionados a outras condições não alérgicas, como refluxo gastroesofágico, cólicas infantis, distúrbios gastrointestinais funcionais e intolerância à lactose. Essa semelhança clínica torna o diagnóstico da APLV desafiador e exige avaliação criteriosa.
A intolerância à lactose, por exemplo, envolve a dificuldade de digerir o açúcar do leite devido à deficiência da enzima lactase. Seus sintomas costumam ser mais leves, como gases e inchaço, e são raros em bebês.
Já o refluxo pode causar regurgitação e desconforto após as mamadas, mas geralmente melhora com medidas posturais ou ajustes na alimentação. As cólicas infantis, por sua vez, seguem um padrão previsível, tendem a desaparecer com o tempo e não estão associadas a alterações cutâneas, presença de sangue nas fezes ou sintomas respiratórios, manifestações mais típicas da APLV.
Por isso, diferenciar esses quadros exige atenção aos detalhes clínicos e à evolução dos sintomas. Essa abordagem evita tratamentos inadequados e garante que o bebê receba o cuidado mais seguro e eficaz.
O papel do diagnóstico médico
Identificar a APLV exige avaliação médica criteriosa. O profissional de saúde irá considerar o histórico clínico da criança, o padrão dos sintomas e, se necessário, solicitar testes complementares. Entre os mais utilizados estão o teste de exclusão alimentar e o teste de provocação oral, realizados sob orientação e supervisão especializada.
É importante ressaltar que nem todo sintoma gastrointestinal, dermatológico ou respiratório está relacionado à condição. Por isso, o diagnóstico nunca deve ser feito com base apenas na observação dos sinais, mas sim em um conjunto de evidências clínicas.
Como lidar com o diagnóstico?
Receber a notícia de que o filho tem APLV pode gerar insegurança, especialmente em relação à alimentação e à rotina da família. No entanto, com acompanhamento profissional adequado, é possível oferecer uma dieta segura e nutritiva à criança, respeitando as restrições necessárias.
Hoje, há um número crescente de opções alimentares disponíveis no mercado, além de fórmulas especiais que substituem o leite de vaca de forma eficiente. O suporte de um nutricionista pode ser fundamental nesse processo de adaptação.
Estar atento aos sinais iniciais da APLV é essencial para garantir que o bebê receba o cuidado que precisa desde os primeiros meses. Ao menor sinal de desconforto frequente ou reações incomuns após a ingestão de leite ou derivados, procure orientação médica.
Quanto mais cedo a alergia for identificada, maiores as chances de sucesso no tratamento e melhor a qualidade de vida da criança e de toda a família.
Referências:
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