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As marcas de um abuso emocional

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Renata Bento
Foto: Divulgação
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Segundo dados do IBGE, 18% das pessoas no Brasil já sofreram algum tipo de violência, física, psicológica ou sexual. Desse grupo, 12% deixaram de realizar atividades do cotidiano em razão disso. O que se observa, é que os casos de violência psicológica têm aumentado exponencialmente.

Toda violência física contém violência psicológica, uma vez que, o (a) agressor (a) invade de forma abrupta o corpo do outro, ultrapassando a barreira do limite físico e emocional, atropelando, o mundo interno da vítima. O mesmo não ocorre com a violência psicológica, que pode ocorrer de forma isolada. Isto é, nem sempre a violência psicológica é acompanhada de agressão física.

As relações abusivas podem ocorrer entre colegas, casais, nas relações familiares, nas relações de trabalho, namorados, isto é, pode estar presente em qualquer relação que haja proximidade. Entretanto, segundo dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro, (ISP), em 2023, a violência psicológica, foi considerada o tipo de crime com maior número de vítimas mulheres. Frisa-se que em 2021, com a Lei nº 14.188, o crime de violência psicológica contra a mulher foi incluído no código penal.

De janeiro a outubro de 2023, a Central de Atendimento à Mulher (180) – atendeu uma média de 1.525 ligações telefônicas por dia. Foram 461.994 atendimentos, sendo 74.584 deles referentes a denúncias de violência contra mulheres. Em 2022, nesse mesmo período, foram 73.685. Do total de denúncias recebidas no período, 51.941 foram realizadas pela própria mulher em situação de violência. Dessas, mulheres negras são as principais vítimas, somando 31.931 das denúncias:

Entre os principais tipos de denúncias estão a violência psicológica (72.993); seguida pela violência física (55.524); violência patrimonial (12.744), violência sexual (6.669); cárcere privado (2.338); violência moral (2.156) e tráfico de pessoas (41).

Por violência psicológica podemos entender: desvalorização, humilhação moral, ameaças, manipulação, perseguição, insultos, chantagem, ridicularização, distorcer ou omitir fatos para que a vítima fique confusa, vigilância constante, entre outras. Esse tipo de violência traz consequências emocionais das mais diversas, porque vai destruindo a vítima silenciosamente, a ponto da vítima se questionar sobre sua inteligência e sanidade mental.

A maior parte dos abusos emocionais, começa de forma sutil. Muitas vezes, é invisível aos olhos das pessoas mais próximas, e até mesmo da própria pessoa que sofre esse tipo de violência. Cria-se um emaranhado inconsciente entre a dupla. A vítima fica em dúvida, confusa e por isso é tão enigmático e complexo para se detectar. O fato de não ficar evidente, como a violência física, a agressão psicológica vai enfraquecendo a vítima de forma lenta, contínua e silenciosa. E esse movimento faz com que a vítima fique cada vez mais dependente e submissa ao agressor.

Umas das dificuldades em entender o limite da relação, se é abuso ou não, se dá justamente porque muitas vezes o agressor psicológico é sutil em sua atitude, ele faz pausas intermitentes em que parece ser uma boa pessoa, mesclando com momentos de um relacionamento mais saudável. Outro fator interessante e que precisa ser ressaltado é o fato do agressor tratar outras pessoas com gentileza, reservando os aspectos mais agressivos para serem projetados na intimidade, com a vítima. Pessoas envolvidas em relações abusivas tendem a se sentirem frequentemente confusas, se sentem diferente do que eram antes, a alegria desaparece e a pessoa fica em estado de alerta constante.

Algumas das sequelas causadas pela violência psicológica são por exemplo, o escoamento da energia vital e confusão mental que poderá levar ao estresse pós-traumático, depressão, perda da autoestima e crises de ansiedade.

As boas relações são aquelas que potencializam os melhores aspectos da pessoa e não que desvitaliza, retirando a luz e o brilho do outro. E por isso tão importante reconhecer o seu valor como pessoa, para jamais permitir que outra pessoa te faça duvidar de quem se é.

O quanto antes a pessoa conseguir identificar a violência e buscar ajuda para se fortalecer, melhor, pois levará um tempo para que esteja confiante novamente em outras relações. As marcas de um abuso emocional, podem permanecer para sempre.

 

RENATA BENTO – Psicanalista – Psicóloga. Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Membro da International Psychoanalytical Association – UK.Membro da Federación Psicoanalítica de América Latina – Fepal. Especialização em Psicologia clínica com criança PUC-RJ. Perita ad hoc do TJ/Rj – RJ. Assistente Técnica em processo judicial. Especialista em familia, adulto, adolescente.

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