A alta nos preços dos alimentos tem obrigado muitas famílias a mudar seus hábitos de consumo, trocando marcas de produtos e buscando soluções mais econômicas para colocar comida à mesa. Com isso, uma alternativa ao bolso do consumidor é adquirir alimentos e outros itens próximos à data de validade em aplicativos que oferecem descontos.
Os preços de alimentos e bebidas subiram 11,43% nos 12 meses encerrados em outubro de 2022, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) — prévia da inflação oficial no país. Esse valor é quase duas vezes maior que o ritmo do índice geral, que aumentou 6,85% no mesmo período, de acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Nesse contexto, além de proporcionar uma redução nas perdas das empresas e no desperdício de alimentos, aplicativos podem diminuir em mais de 70% o desembolso com compras — principalmente de quem passou a fazer sua lista a partir das ofertas diárias. Quanto mais próximo estiver da data do vencimento, mais barato o produto fica.
As plataformas, portanto, fazem a ligação entre estabelecimentos e consumidores, mas é necessário ficar atento para comprar na medida certa. Algumas dicas também podem ajudar a driblar a alta dos preços, como organizar o uso do cartão vale-alimentação, não cair na tentação de comprar itens demais e pensar nos hábitos de consumo para não perder a validade.
O vale-alimentação pode ser utilizado em supermercados e mercearias para adquirir produtos que serão preparados em casa. Já o vale-refeição é um benefício destinado à compra de refeições prontas em restaurantes, lanchonetes e padarias.
Ferramentas digitais potencializam varejo de valor
Como aponta em entrevista à imprensa o diretor de Inteligência de Mercado da Mosaiclab, Eduardo Yamashita, o varejo de valor é uma tentativa buscada pelo consumidor em todo período de crise para manter hábitos a um custo menor.
Atualmente, as ferramentas digitais potencializam ofertas que já eram feitas no varejo tradicional, além de oferecer mais transparência ao motivo do desconto.
Conexão entre indústria e consumidor final
O aplicativo SuperOpa é uma opção para quem está em busca de economizar. Disponível para Android e iOS, ele conta com produtos retirados diretamente da indústria que serão vendidos ao consumidor final sem passar por intermediários.
Somente essa operação já renderia uma certa economia ao consumidor. A proximidade da data de validade faz com que os preços caiam ainda mais e tornem o produto atrativo para o comprador.
Criado por Luis Borba em 2019, o SuperOpa era, na verdade, um projeto de faculdade pensado para diminuir o desperdício de alimentos. De 2021 para 2022, o app cresceu 400% em downloads e faturamento.
Entre os itens mais comercializados no site estão picanha fatiada, carne moída, pão de alho, filé de tilápia, camarão e cerveja. Embora o chamariz da plataforma seja produtos com prazo de vencimento próximo, é possível encontrar itens de complemento a churrasco, como farofa e carvão.
Atualmente, o SuperOpa atende no interior de Rio, Minas Gerais e em mais de 500 cidades de São Paulo, conectando distribuidor e consumidor final. A expectativa é que expanda o negócio para as capitais do Rio e Minas.
Programar compra mensal gera economia
Para negociar melhores preços com fornecedores, outra ferramenta, a Shopper, aposta em compras programadas. A ideia é que o consumidor faça o cadastro na plataforma e salve a sua lista de compras.
A partir daí, todos os meses a empresa envia um recado sobre a proximidade da data para ele conferir se quer fazer algum ajuste, como retirar ou acrescentar itens.
Em entrevista à imprensa, o CEO da Shopper Fábio Rodas afirmou que o formato de pré-agendamento de compras costuma render de 12% a 25% de economia para o cliente.
Ele pontua que é certo que o consumidor precise de reposição todos os meses de produtos com grande saída, como os de limpeza e higiene. Sabendo disso, é feito um planejamento mensal para comprar os itens do fornecedor com antecedência, garantindo melhores preços.
Existe, ainda, o serviço de compra semanal de perecíveis, que traz produtos como frios, iogurte, queijo e frutas.
Produtos com a validade próxima podem ser vantajosos
Criada em 2021, a startup Food To Save tem o intermédio entre produtos com validade próxima do vencimento e comércio/cliente final como sua principal estratégia.
A dinâmica funciona a partir de sacolas-surpresas com alimentos como chocolates, pães e pizza, com descontos de até 70%. No ano passado, a companhia cresceu 300%, negociou 150 mil sacolas e movimentou mais de R$ 1,8 milhão, conforme conta o CEO Lucas Infante em entrevista à imprensa.
A ferramenta nasceu em São Paulo capital, foi para Campinas, no interior do estado e, depois, chegou ao Rio de Janeiro.
Leilão auxilia pequeno varejista a negociar preço
Não é somente o consumidor final que vem desfrutando de serviços com opções de preços mais atrativos. Empresários do pequeno varejo também podem acessar uma plataforma que oferece produtos a um preço mais em conta.
É o caso da ferramenta Souk, que negocia produtos perecíveis de proteína animal com data de validade menor que três meses — prazo trabalhado pela indústria — para os pequenos negócios.
Como esclarece Antelino Filho, sócio e CEO da Souk, as grandes redes de supermercados não se arriscam a comprar produtos com prazo inferior a 90 dias antes do vencimento. Isso ocorre porque elas têm uma cadeia logística muito grande e há o risco de o produto chegar a uma unidade perto da data-limite para comercialização, o que pode significar prejuízo.
O pequeno comércio, por outro lado, opera com um prazo menor, geralmente com a reposição semanal, já que não tem espaço para estoque. Assim, para ele adquirir um produto com vencimento em um mês ou menos, não há problema.
As negociações são feitas no formato de leilão holandês, ou seja, o preço vai diminuindo até que algum varejista arremate.
Entre as empresas que ofertam seus produtos na plataforma, estão Gourmet, Seara, Tirolez, Doriana, Mondelēz, Nestlé DPA, Massa Leve e Forno de Minas.