Especialista em liderança humanizada, Vivi Quiessi analisa os motivos que levam profissionais a pedir desligamento e aponta caminhos para reter talentos no cenário atual
O mercado de trabalho passa por uma transformação silenciosa e profunda. Cada vez mais, empresas relatam dificuldades em reter profissionais qualificados, que optam por sair mesmo em posições estáveis ou bem remuneradas. O fenômeno, que ganhou força após a pandemia, levanta uma questão urgente: afinal, por que os talentos estão deixando as empresas?
Para a especialista em liderança e gestão de pessoas Vivi Quiessi, a resposta vai muito além do salário. “As novas gerações buscam ambientes de trabalho que respeitem sua individualidade, ofereçam propósito e proporcionem equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Quando a empresa não entrega isso, a decisão de sair se torna quase inevitável”, afirma.
Clima organizacional em xeque
O clima de trabalho está entre os fatores mais decisivos para a permanência ou saída de talentos. Ambientes com excesso de pressão, falta de comunicação clara e líderes despreparados contribuem para um desgaste emocional contínuo. “A liderança é um dos principais pontos de ruptura. Profissionais não pedem demissão de empresas, mas de líderes. Quando não há uma gestão humanizada, o vínculo se rompe”, explica Vivi.
Inclusive, conforme pesquisa realizada pela consultoria Gallup, 72% dos colaboradores deixam seus empregos devido à liderança. Esse dado reforça a emergência de preparar gestores e líderes para uma abordagem mais humana, com real capacidade de escuta e uma visão que vá além do crachá.*
O papel de um ambiente seguro e da gestão humanizada
A criação de um ambiente psicologicamente seguro é uma das premissas fundamentais para reter talentos. Segundo a especialista, quando as pessoas sentem que podem expressar ideias, opiniões e emoções sem medo de julgamentos ou represálias, a conexão com a organização fortalece-se. “As organizações que adotam práticas de gestão humanizada têm mais chances de reter talentos e fortalecer equipes engajadas. Quando o colaborador sente que sua voz é ouvida e que sua contribuição faz diferença, ele se conecta ao negócio de uma forma muito mais sólida. Não é sobre controlar, é sobre inspirar e liberar o potencial das pessoas”, destaca.
Propósito e autonomia como motores
O desejo por propósito e autonomia também está no centro desse movimento. Muitos profissionais deixam empregos para empreender, buscar novas áreas ou se dedicar a projetos que tragam significado. “Equipes autogerenciáveis não são apenas mais produtivas, mas também mais felizes. O colaborador quer ser visto como protagonista, não como peça substituível de uma engrenagem”, reforça.
Desafio para as empresas
Para Vivi, reter talentos no mundo atual exige uma revisão profunda da cultura organizacional. “As empresas precisam entender que o bem-estar não é benefício, mas estratégia de negócio. Investir em desenvolvimento humano e em lideranças preparadas para lidar com pessoas é o que vai diferenciar quem vai sobreviver no futuro do trabalho”, conclui.
O fenômeno da saída de talentos revela que a competição entre empresas não é apenas por clientes, mas também por pessoas. E, nesse cenário, quem souber oferecer propósito, autonomia e um ambiente saudável terá vantagem.