Gênero dissertativo-argumentativo e temas de relevância social caracterizam a prova decisiva para o acesso ao ensino superior
A redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é considerada uma das partes mais complexas e influentes da avaliação. Responsável por até 20% da nota final, ela tem peso decisivo na conquista de vagas em universidades públicas e privadas. A cada edição, milhares de candidatos veem seu desempenho na prova de redação como um divisor de águas para o futuro acadêmico.
Desempenho do Acre no Enem
Nos últimos anos, o Acre tem se destacado nessa etapa: em 2024, quatro estudantes da rede privada do estado superaram os 980 pontos na redação, enquanto uma aluna indígena da etnia Huni Kuin, da rede pública, alcançou 920 pontos. Já em 2025, o estado ficou entre os três com maior participação proporcional de concluintes da região Norte no Enem. Esses resultados reforçam o crescente engajamento da juventude acreana com a educação e com o exame.
Aplicada no primeiro dia do exame, juntamente das provas de linguagens e ciências humanas, a redação exige a produção de um texto dissertativo-argumentativo sobre um tema específico. Mais do que desenvolver um posicionamento crítico, o participante precisa propor soluções viáveis para o problema abordado, respeitando sempre os direitos humanos e a estrutura de texto solicitada.
Estrutura e critérios de avaliação
A produção textual no Enem segue um modelo bem definido. O candidato deve apresentar uma tese clara, argumentação consistente e uma conclusão com uma proposta de intervenção social. A proposta é um ponto crucial, pois demonstra a capacidade de sugerir ações concretas que transformem a realidade discutida. Para isso, é necessário detalhar quem executará a ação, como será feita e quais resultados se espera alcançar.
Na correção, cinco competências são avaliadas, cada uma com peso de até 200 pontos. Elas contemplam o domínio da norma culta da língua portuguesa; a compreensão do tema e o desenvolvimento de argumentos; a organização e coesão das ideias; o uso de repertório linguístico; e a elaboração da proposta de intervenção. Fuga ao tema, desrespeito aos direitos humanos e textos com menos de sete linhas podem levar à nota zero.
Resultados e desafios dos participantes
O histórico da redação do Enem revela o alto grau de dificuldade para se atingir a excelência. Em 2024, apenas 12 participantes conseguiram alcançar a nota máxima, de 1.000 pontos, o número mais baixo registrado nos últimos dez anos. Este resultado pode ser atribuído ao aumento do rigor na correção e à maior complexidade das propostas apresentadas nos temas recentes.
A diversidade de assuntos reforça o caráter social da prova. Entre os temas já cobrados, estão “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil” (2024) e “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil” (2023). Questões como estas exigem dos candidatos não apenas domínio da escrita, mas também capacidade de refletir criticamente sobre problemas da sociedade.
Uma etapa para além do conteúdo técnico
Mais do que avaliar a habilidade de escrever, a redação do Enem busca medir a formação cidadã de quem participa do exame. A exigência de uma proposta de intervenção no final do texto revela esse compromisso: espera-se que o candidato seja capaz de pensar soluções para os desafios apresentados, sempre sob um olhar democrático e inclusivo. Este diferencial é o que torna a redação tão decisiva para a nota geral.
Com temas que espelham as tensões e os avanços sociais do país, a prova de redação do Enem é também um retrato de como jovens brasileiros se posicionam diante das transformações do mundo. Ao mesmo tempo em que abre portas para o ensino superior, ela sinaliza a importância de um preparo que vai além da gramática e da técnica, exigindo repertório cultural e consciência crítica.
Em 2025, o Acre registrou uma das maiores taxas de participação da região Norte, com 81,52% dos concluintes do ensino médio da rede pública confirmando presença no exame, superando a média nacional. O dado sinaliza não apenas o envolvimento crescente dos estudantes, mas também o preparo contínuo das redes de ensino para os desafios das próximas edições.