Uma pesquisa recente realizada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), sob encomenda das entidades Itaú Social, Todos Pela Educação, Instituto Península e Profissão Docente, revelou que pelo menos 71% dos professores brasileiros estão estressados.
Para chegar a este resultado, o levantamento entrevistou 6.775 docentes de escolas públicas, de diversas regiões do país, entre os meses de julho e dezembro de 2022.
Sobrecarga é o principal motivo de estresse entre os professores
O principal causador de estresse entre os docentes entrevistados é a sobrecarga de trabalho. Isso ocorre porque os professores precisam não só preparar as aulas, como também elaborar relatório de aluno, corrigir provas e lidar com situações de indisciplina em sala de aula.
Não é de hoje que o estresse na vida dos docentes vem sendo estudado. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a rotina estressante é uma das principais causas de abandono da profissão de professor.
Quando o professor não consegue lidar com as situações de estresse, ele aumenta as chances de sofrer com pânico, depressão, síndrome de burnout e outros problemas psicológicos.
O estresse não abala apenas a saúde mental dos professores, mas também a saúde do corpo. Um organismo esgotado adoece, ou seja, fica mais vulnerável a problemas como hipertensão arterial, úlceras gastroduodenais e psoríase. O estresse não é a causa destas doenças, mas pode ser considerado um agravante.
A pesquisa também identificou um outro ponto preocupante. Na opinião dos professores entrevistados, a gestão educacional deveria considerar o apoio psicológico aos alunos e docentes como uma prioridade nos próximos anos. Esta necessidade, identificada pelos educadores, supera até mesmo o aumento de salário.
O período de pós-pandemia agravou as condições de saúde mental de professores e alunos. São tempos complicados porque os profissionais da educação precisam recuperar o tempo perdido no processo de aprendizagem e engajar os estudantes.
De acordo com o levantamento, um dos problemas enfrentados em sala de aula é o desinteresse pelo conteúdo das aulas (31%). Além disso, constatou-se que 28% dos professores consideram a defasagem na aprendizagem como um dos principais problemas dos alunos.
O estudo aponta que este cenário deve prevalecer por mais tempo, em virtude do impacto causado pela crise sanitária e social. Portanto, pode ser o melhor momento para pensar em inovações nas estratégias pedagógicas usadas no processo de aprendizagem.
O levantamento constatou tentativas de inovar as metodologias de ensino, bem como as práticas para engajar e motivar as turmas de alunos. Contudo, falta a iniciativa da gestão educacional de fortalecer a oferta de formação continuada aos professores. Assim, os educadores se sentirão menos desvalorizados.
Os desafios do professor são muitos, porém, a sua imagem diante das famílias melhorou depois da pandemia. Segundo a pesquisa do Ipec, os pais dos alunos estão reconhecendo com mais facilidade o trabalho do docente – o quão difícil e desafiador ele é.
Embora o trabalho de professor gere estresse, a maioria dos educadores não se vê em outra carreira. Nove em cada dez professores que participaram da pesquisa escolheriam a docência novamente se tivessem uma segunda chance para definir a profissão.
Aliás, o levantamento revelou uma preocupação com o excesso de cursos de licenciatura a distância no Brasil. Para 84% dos respondentes, a formação proporcionada por cursos presenciais garante uma preparação mais completa para o início da profissão.
Estudantes enfrentam desânimo
A situação não é otimista para os professores, tampouco para os estudantes. A pesquisa constatou que o retorno ao ensino presencial foi acompanhado de muitas dificuldades de alfabetização. Além disso, temas envolvendo Língua Portuguesa e Matemática ainda geram dificuldades entre os alunos de diversas séries.
Neste contexto, muitos estudantes não conseguem acompanhar o conteúdo das aulas e desanimam. Assim como os professores, se sentem sobrecarregados e estressados.