Há mais de um ano, assistíamos à proliferação da Covid-19 do seu suposto epicentro, a cidade de Wuhan, na China. O cenário era de caos: hospitais lotados para combater um inimigo invisível e totalmente desconhecido para os médicos da região.
Um ano depois, a situação é completamente diferente: de forma ágil e eficaz, os chineses seguem combatendo o coronavírus em um cenário muito mais favorável, quase que atípico em relação ao restante do mundo. E parte disso tem um motivo claro: em meio ao seu crescimento econômico exponencial dos últimos anos, a China tem investido largamente em padronização e gestão da qualidade.
Na prática, isso quer dizer que a implementação de padrões em áreas essenciais – logística, saúde e transporte – foi fundamental na atuação rápida dos chineses durante a pandemia. A imagem mais emblemática talvez seja a construção de Huoshenshan, o hospital erguido em apenas 10 dias para receber paciente diagnosticados com a Covid-19.
A situação teve contornos de espetáculo. Ao vivo, por meio de câmeras instaladas ao redor do terreno de 25 mil m², em Wuhan, as pessoas puderam conferir em tempo real a construção de um hospital com mais de mil leitos. Trabalho de 4 mil trabalhadores se revezando em três turnos.
Tudo isso foi possível graças à aplicação organizacional dos trabalhadores chineses. Com softwares de última geração – capazes de gerir otimização de processos, auditorias e redução de custos – esses módulos de construções pré-fabricadas foram erguidos em tempo recorde.
Mas não é apenas isso que choca o mundo. Hoje a China é responsável pela produção da maior parte de produtos eletrônicos no mundo, além de ser muito forte na exportação de insumos farmacêuticos – como as seringas, insumos imprescindíveis para a vacinação no Brasil – sendo praticamente detentora de um campo fabril único no mundo, atualmente.
A gestão da qualidade, indiretamente, afeta inúmeras áreas de produção no mundo. Sem um trabalho organizado, chancelado por certificações ISO, a globalização que enxergamos em 2021 dificilmente seria possível. Quantas empresas moveriam seus negócios para a China sem possuir a garantia de que manteriam seus padrões de qualidade lá?
Mas como construir um bom Sistema de Gestão de Qualidade (SGQ)? No momento, não há outra maneira de se manter competitivo sem a realização de trabalhos à distância. Os organismos de certificação precisaram implementar mudanças internas, se adequando às orientações dos órgãos acreditadores, concernente a execução de auditorias remotas. Esse novo cenário trouxe desafios na implementação desse tipo de serviço: a preocupação com a segurança e qualidade na transmissão das informações e a autenticidade e a integridade das evidências obtidas durante a auditoria, dentre outros, foram alvos do gerenciamento de risco por parte das certificadoras, assegurando a qualidade no processo de auditorias remotas.
Ao escolher um organismo de certificação para avaliar o sistema de gestão da qualidade as empresas, precisam estar seguras que o mesmo tem experiência, credibilidade e que se estruturou de maneira adequada para essa nova realidade, sem perder a qualidade técnica do trabalho que realiza.
É importante frisar, porém, a importância desse trabalho ser realizado de forma presencial: ao longo de mais de 20 anos de experiência com Sistemas de Gestão da Qualidade, constatei que os resultados oriundos de consultorias e auditorias remotas não são tão efetivos quando comparados aos resultados provenientes de consultorias e auditorias presenciais.
A participação do consultor no desenvolvimento da cultura da qualidade da organização fica fragilizada quando a construção do SGQ não é feita “olho no olho”.
Outros fatores que contribuem para que uma consultoria não ofereça a melhor experiência em termos de gestão da qualidade estão relacionados a experiência e conhecimento técnico do profissional, além da metodologia de trabalho adotada.
No Brasil, há empresas cada vez mais capacitadas a replicar esses modelos de qualidade em seus campos fabris. Ainda incipiente, porém, é a visão difundida em larga escala do quão importante é que esse trabalho seja enxergado como uma necessidade para a aceleração econômica do nosso país, que possui uma indústria pujante, mas que precisa se atualizar.
Ivan Gonçalves é sócio-diretor da Qualyteam, empresa especializada em soluções para gestão da qualidade.