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Os vocais melódicos e ásperos de Daniel Gadelho a frente do Rematte

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O quarteto cearense Rematte lançou recentemente em todas as plataformas de streaming, e em formato de videoclipe, seu novo single: “A Cerca”. A música é o segundo lançamento do grupo este ano, e desta vez conta com a parceria do selo Electric Funeral Records. Confira o videoclipe “A Cerca”: https://youtu.be/XluyO-bUymo
 
O grupo formado por Daniel Gadelha (vocal), Álvaro Abreu (bateria), Jonas Monte (baixo) e Thiago Barbosa (guitarra) põe toda a raiva para fora, apresentando uma musicalidade mais pesada, com riffs frenéticos e dissonantes, além de uma letra que fala sobre as desigualdades sociais cada vez mais gritantes em nosso país, como conta Daniel: “O texto é uma costura de reflexões e críticas sobre a nossa sociedade, que está metaforicamente (ou não) recortada por “cercas invisíveis”, que não enxergamos, mas que são tão sólidas quanto o ódio de quem as cria e de quem as vivencia.  Cercas sociais, raciais, econômicas, religiosas, e todas aquelas que subtraem da humanidade a capacidade de perceber a existência do outro, do coletivo, da diversidade, e o prejuízo impagável que isso imprime em uma visão de mundo mais justa”.
Daniel Gadelha expressa sua potência vocal com muita emoção e entrega a frente do Rematte. O músico usa a voz como um instrumento de grande alcance, canalizando assim uma energia fora do comum, dando corpo ao som do grupo. 
Os vocais melódicos e ásperos são distintos o suficiente em suas formas naturais, tornando-se uma massa que pode assumir qualquer forma ou textura nas composições.


Conversamos com o vocalista do Rematte sobre suas influências musicais, processo de composição e gravação, sua trajetória na música, entre outras curiosidades. 
Você e o Rematte apresentam uma sintonia e criatividade intensa. Como funciona a parceria de vocês como músicos e amigos dentro do projeto? Como a banda começou?
Daniel Gadelha – A sintonia é uma construção, né? Os anos foram lapidando nossas conversas, criando atalhos e facilitando a comunicação. Começamos em 2017, e agora em 2021 temos um time bem coeso e que se conhece bem. A banda surgiu para resgatar um antigo projeto que eu tinha com o Álvaro Abreu (baterista), chamado Redoma. Ele me mostrou que as músicas desse trabalho eram mais atuais do que nunca e que valia a pena, pelo cenário brasileiro meio nebuloso que estamos passando, retomar o projeto e difundir a mensagem. Então o Rematte começa (ou recomeça) tendo como base canções de 14 ou 15 anos atrás, que vieram a compor nosso EP de 2018, e serviram como alicerce para composições mais atuais.

Dentro do cenário do rock, metal e hardcore brasileiro, você costuma acompanhar quais bandas nacionais? E sobre as estrangeiras, alguma atual que tenha lhe chamado a atenção ultimamente?
Daniel Gadelha – Os sons nacionais que mais tenho ouvido hoje são mais alternativos, do hip hop, por exemplo. Mas gosto muito de um trabalho aqui do Ceará chamado “Matheus Fazeno Rock”, que tem persistido a alguns meses na minha playlist. É uma fusão de MPB com rock e uma interpretação bem emocional, recomendo! De rock gringo, o Deftones e seu disco mais recente também me tocaram bastante, até pela pegada mais pop, que é diferente na trajetória deles, mas ainda com o peso característico!

Que dica você daria a músicos brasileiros da cena, que têm medo de experimentar e inventar coisas novas em suas músicas?
Daniel Gadelha – Encontre algo que seja seu, experimente sem pudor, teste, e quando achar que encontrou, milite nisso! Vá se relacionando com sua ideia e, dessa forma, sua narrativa autoral será rica, honesta e poderá contribuir no universo!
Quais são as suas maiores influências musicais? Pra você qual é o maior frontman de todos os tempos?
Daniel Gadelha – Como compositor, pela força da língua portuguesa, eu me animo muito a escrever graças ao trabalho do Chico Buarque, Belchior, Aldir Blanc, Caetano, enfim, os craques da MPB, sem esquecer de compositores mais modernos, como Chico Science e Marcelo Yuka. Já os frontmen, eu me animo a cantar ouvindo muito o Zack De La Rocha (RATM), Chris Cornell (Soundgarden, Audioslave), Chino Moreno (Deftones), Bob Marley e Noel Gallagher (Oasis). Cada um por motivos bem distintos. Não haveria apenas um.
Sua linha vocal demonstra criatividade e veemência. Você sempre compõe e cria as linhas vocais das músicas pensando de forma analítica ou elas acabam saindo naturalmente desse jeito?
Daniel Gadelha – É um misto. Eu gosto do acaso de improvisar coisas durante os ensaios, testar… E o que fica bom vai permanecendo. Não há um planejamento melódico organizado. É muito da interpretação do texto, da métrica, do que soa bem, do que se pronuncia bem. Muita tentativa e erro mesmo. Quando a melodia já tem um certo caminho, começo a escrever a letra. Mas também há vezes que vem os dois ao mesmo tempo. É feeling! Rsrsrs

Como a música surgiu em sua vida?
Daniel Gadelha – Surgiu desde o nascimento mesmo. Na minha família se ouvia muita música brasileira em geral: Jorge Ben, Gil, Caetano, Luiz Gonzaga, Chico, Fagner, Ednardo e mais tarde passei a ouvir muito Raimundos, Blur, Oasis e alguns sons pesados, como Metalica, Iron Maiden, nos anos 2000 o New Metal também teve bastante impacto, dentre outros sons. De forma que entendo a vida como períodos, com trilhas sonoras diferentes, e que hoje se somam com igual força na minha produção.


Qual foi o melhor show da história do Rematte para você? Conta pra gente.
Daniel Gadelha – Apesar de Festivais importante que tocamos, tenho um carinho especial pelos shows do Praxedes Bar (bar de Fortaleza, com uma vibe de pub, onde bandas undergrounds da cidade se apresentavam), pelo momento de retomada que eles
representaram. É um local acolhedor, onde tivemos oportunidade de produzir nossos shows e eu pude conhecer diversas bandas e me reconectar com a cena, já que fiquei fora por muito tempo.
 
Qual é a sua faixa favorita da banda?
Daniel Gadelha – Com certe “Sob o Luar”, pois é uma faixa mais recente, que traduz bem o que a banda se propõe a fazer agora. Um texto forte, uma lírica bem particular nossa, acho foda!

Quais os planos para 2021? Alguma previsão de lançar material inédito?
Daniel Gadelha – Sim! Em 2021 estamos planejando lançar um grupo de faixas. Não sabemos ainda qual o tamanho disso. Será um EP, ou um álbum, mas estamos em discussão. A ideia é começar a produzir o quanto antes!
 
Como está sendo pra banda ver esse feedback tão positivo da mídia nacional e internacional com os últimos lançamentos da banda?
Daniel Gadelha – Eu vejo com muita alegria! É uma forma de ver o nosso trabalho reconhecido, com legitimidade. Isso para mim importa demais. Só felicidade quando é possível trocar ideia com gente de outros locais, outras cenas, todo mundo cresce. Muito bacana esse rolê. Espero que possamos continuar mantendo a repercussão nesse nível.
 

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