Fenômeno do kidult cresce entre adultos que buscam acolhimento emocional em objetos infantis, como os cadernos Bobbie Goods, os bonecos Labubu e a febre do bebê reborn
O termo kidult – junção de “kid” (criança) com “adult” (adulto) – tem ganhado força para explicar um comportamento crescente: adultos que consomem brinquedos, itens lúdicos e produtos nostálgicos para lidar com o cotidiano.
Segundo o Business Insider, este público é o que mais cresce no setor de brinquedos, movimentando bilhões de dólares anualmente. A tendência, antes mais concentrada em países como Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos, já se espalha pelo Brasil.
A palavra pode soar estranha à primeira vista, mas o conceito por trás do kidult torna-se cada vez mais familiar. Itens como cadernos de colorir da marca Bobbie Goods, bonecos colecionáveis como os Labubu e os hiper-realistas bebês reborn são apenas alguns dos objetos que simbolizam o retorno emocional à infância.
Por que o kidult acontece? A explicação da ciência e da psicologia
De acordo com o terapeuta integrativo Paulo Dorta, o kidult não é somente uma tendência de consumo, mas uma forma de autorregulação emocional diante das pressões da vida adulta. Ele destaca que os objetos funcionam como “âncoras afetivas” em um mundo mais acelerado e incerto.
Durante a pandemia de Covid-19, o fenômeno ganhou força com o retorno de passatempos nostálgicos, como quebra-cabeças, Lego e desenhos. O cenário intensificou a necessidade de conforto emocional, e os brinquedos surgiram como válvulas de escape legítimas.
A psicanalista Tatiane Reis também reforça esse olhar: “Muitos adultos resgatam afetos da infância para encontrar um lugar de acolhimento interno. O brinquedo, neste contexto, não é infantilização: é autocuidado emocional”. A prática, segundo ela, é saudável, desde que não substitua relações sociais ou cause prejuízos financeiros.
Quais os brinquedos e objetos mais populares entre os adultos hoje?
A cada quatro brinquedos vendidos no mundo, um é adquirido por um adulto, segundo dados do Business Insider. O ranking dos itens mais populares inclui:
- Bobbie Goods: cadernos de colorir com estética cute e design retrô, que remetem ao prazer simples de desenhar e pintar.
- Labubu: chaveiros e bonecos com design expressivo e colecionável, que viraram febre entre jovens adultos em países asiáticos e, mais recentemente, no Brasil.
- Lego, Barbie e Pokémon: marcas tradicionais reeditadas em versões premium para adultos.
- Bebê reborn: talvez, o mais emblemático dos exemplos atuais.
A febre do bebê reborn ultrapassa fronteiras entre brinquedo e objeto emocional. Produzidos artesanalmente, com silicone, pintura realista e até mecanismos que simulam batimentos cardíacos, os bonecos são tratados com cuidado, carinho e, em alguns casos, como filhos simbólicos.
Kidult no Brasil: um fenômeno em crescimento
No Brasil, 76% dos adultos entre 18 e 65 anos se identificam como consumidores em potencial do mercado, superando a média mundial, de 67%. O número mostra que o comportamento não é um nicho, mas um reflexo coletivo das transformações emocionais da sociedade.
Mais do que tendência, representa uma forma contemporânea de autocuidado. Em vez de negar suas fragilidades, muitos adultos estão aprendendo a acolhê-las, mesmo que seja com a ajuda de um boneco Labubu, um caderno de colorir ou um bebê reborn no colo.