Jovens com câncer de pulmão ganharam uma nova opção de tratamento, agora focado em mutações genéticas específicas, que prolonga a vida em até 40% comparado à terapia padrão. A combinação dos medicamentos amivantamabe e lazertinibe manteve pacientes vivos e sem registrar avanços da doença por quase dois anos, segundo estudo apresentado em março.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima 32.560 novos casos anuais de câncer de pulmão, traqueia e brônquios no Brasil. A doença, historicamente concentrada em faixas etárias avançadas, vêm aumentando a frequência entre jovens. Entre eles, a dor torácica é o sintoma mais frequente, mas profissionais de saúde e os próprios pacientes demoram a considerar a possibilidade de câncer, segundo estudo do Journal of Thoracic Disease.
Os pesquisadores calculam que a nova combinação de medicamentos pode aumentar o tempo de vida dos pacientes em, pelo menos, um ano. O amivantamabe age bloqueando dois alvos diferentes nas células cancerígenas, enquanto o lazertinibe impede que essas células recebam os sinais necessários para se multiplicarem. No acompanhamento clínico, o médico oncologista avalia a resposta individual ao tratamento com base nas características genéticas do tumor.
O estudo acompanhou 1.074 pacientes. A fase 3 de ensaio clínico global recrutou participantes, entre 2020 e 2022, no Reino Unido, nos Estados Unidos, na Austrália, na França, no Brasil, na Índia e na China.
Todos tinham o tipo mais comum de câncer de pulmão em estágio avançado, com uma alteração genética específica chamada mutação EGFR, e ainda não haviam iniciado tratamento. Essa mutação aparece em até 15% dos casos norte-americanos e alcança até 40% dos diagnósticos em populações asiáticas, conforme dados da American Lung Association.
Redução do risco de morte
Os pacientes que receberam a combinação de amivantamabe com lazertinibe tiveram uma redução de 25% no risco de morte e permaneceram vivos sem que a doença avançasse por um período 40% maior em comparação com aqueles que usaram o tratamento padrão (com osimertinibe).
Após quase três anos de acompanhamento, mais da metade dos pacientes tratados com essa nova combinação estava viva. Os pesquisadores responsáveis pelo trabalho consideram os resultados uma demonstração dos avanços na medicina de precisão, área que desenvolve tratamentos adaptados às características genéticas específicas de cada tumor.
A agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, o FDA, aprovou em agosto de 2024 o uso dessa nova combinação como primeiro tratamento para pacientes com câncer de pulmão do tipo CPNPC que apresentam a mutação EGFR. As terapias disponíveis incluem desde medicamentos sistêmicos até procedimentos guiados por imagem, como a ablação por cateter, para situações clínicas específicas.
Alterações genéticas tratáveis aparecem em 68% dos casos em pacientes abaixo de 50 anos
Em 68% dos casos de pessoas com 50 anos ou menos, foram identificadas mutações passíveis de tratamento direcionado, segundo estudo do Dana-Farber Cancer Institute com 2.237 pacientes de diferentes origens étnicas. O percentual cai para 52% em pacientes mais velhos, conforme artigo publicado no Journal of Thoracic Disease. As alterações envolvem os genes EGFR, ALK, ROS1, HER2 e BRAF.
Mulheres representam a maioria dos diagnósticos de câncer de pulmão em jovens, padrão inverso ao observado em grupos etários mais avançados. O adenocarcinoma (tipo maligno de câncer originado no tecido epitelial glandular) responde por 48% dos casos em pacientes com menos de 39 anos, segundo dados do English National Lung Cancer Audit. Entre pessoas acima de 80 anos, esse tipo histológico cai para 31% dos diagnósticos.
O tabagismo permanece como principal fator de risco e está associado a 85% dos casos, de acordo com o Inca. A prevalência de fumantes adultos no Brasil caiu de 34,8% em 1989 para 12,6% em 2019, conforme o Programa Nacional de Controle do Tabagismo. A taxa de sobrevida relativa em cinco anos no país é de 18%, segundo dados de mortalidade de 2022 do próprio Inca
Ministério da Saúde amplia orientações para diagnóstico da doença
O Ministério da Saúde disponibiliza em seu portal oficial as Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas do Câncer de Pulmão. Em 2024, três entidades médicas brasileiras – a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica e o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem – estabeleceram pela primeira vez recomendações nacionais para identificação precoce da doença.
As orientações apontam que pessoas entre 50 e 80 anos devem realizar tomografia computadorizada de baixa dose anualmente, caso fumem ou tenham parado de fumar há no máximo 15 anos, desde que acumulem carga tabágica de 20 anos-maço. Esse cálculo considera o número de maços fumados por dia multiplicado pelos anos de tabagismo.
O Inca estima que as mortes prematuras por câncer de pulmão em homens de 30 a 69 anos devem cair 28% até 2030. Dados do Registro Hospitalar de Câncer do instituto mostram que, entre 2014 e 2018, o sistema público de saúde atendeu 56.534 pacientes com diagnóstico da doença.
