O Museu dos Pretos Novos, no Rio de Janeiro, inaugura no próximo dia 14 de outubro a exposição “Kalunga”, uma mostra inédita que reúne o olhar de dois fotógrafos brasileiros — Orestes Locatel e Gustavo Minas — sobre a maior comunidade quilombola do país. A cerimônia oficial de abertura acontece no dia 17 de outubro, às 19h, e a mostra segue em cartaz até 8 de novembro, com entrada gratuita.
Com curadoria dos fotógrafos Gabriel Lordello e Tadeu Bianconi, a exposição propõe um diálogo visual entre duas gerações da fotografia brasileira que se voltaram para o mesmo território: o Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, em Goiás. A comunidade, formada por descendentes de pessoas escravizadas que fugiram das minas de ouro no século XVIII, preserva até hoje tradições, modos de vida e expressões culturais únicas.
Dois olhares sobre uma mesma história
Orestes Locatel iniciou sua documentação em 2000 e já apresentou parte do trabalho em mostras internacionais, como a Bienal de Fotografia de Liège, na Bélgica, e a exposição Black Is Beautiful, na Bienal de Amsterdã. Suas imagens em preto e branco, feitas em película, revelam um olhar mais clássico e documental sobre o cotidiano kalunga.
Já o trabalho de Gustavo Minas, reconhecido mundialmente pela fotografia de rua, é mais recente. Ele visitou a região duas vezes, em 2023 e 2024, durante a tradicional Romaria de Nossa Senhora da Abadia — também chamada de Festa do Império Kalunga. Suas imagens coloridas e vibrantes destacam o movimento e a espiritualidade da celebração.
“Sabíamos que o trabalho de Locatel nunca havia sido exibido no Brasil, e com a vinda do Gustavo Minas, que também registrou essa comunidade, vimos a oportunidade de reunir duas visões distintas sobre o mesmo território. O resultado é uma coleção inédita e belíssima”, explica o curador Gabriel Lordello.
Para o também curador Tadeu Bianconi, o diálogo entre as obras é revelador:
“Locatel traz uma abordagem mais clássica, enquanto Gustavo aposta na cor e na espontaneidade. A mostra ressalta a força autoral de cada um e, sobretudo, dá visibilidade a uma comunidade quilombola histórica que precisa ser reconhecida e preservada.”
Kalungas: patrimônio vivo
Com 262 mil hectares, o Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga é o maior território quilombola do Brasil e foi reconhecido pela ONU em 2021 como o primeiro território nacional conservado pela própria comunidade, que mantém 83% da vegetação nativa intacta.
O quilombo abrange três municípios goianos e reúne 56 comunidades, totalizando mais de 8 mil habitantes. A economia local se baseia na agricultura de subsistência, no extrativismo, no ecoturismo e na pecuária.