Sensação de peso nas pernas e nos braços, aumento de apetite, sonolência excessiva, reatividade de humor ampliada, maior sensibilidade a críticas ou rejeição. Essas características podem ser indício de uma depressão atípica, um subtipo de transtorno depressivo popularmente conhecido como “paralisia de chumbo”.
Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria, a médica Milliane Rossafa pontua que, apesar do nome, a depressão atípica é bastante comum, afetando duas vezes mais mulheres que homens. De acordo com ela, as pessoas com essa condição – também conhecida como “depressão sorridente” – costumam ser capazes de manter a rotina e as atividades do dia a dia. No entanto, essa mesma energia pode ser combustível para os pensamentos suicidas.
“Trata-se de uma depressão mais perigosa, porque o indivíduo tende a demorar mais para procurar tratamento por ter dificuldade para reconhecer as suas próprias emoções e se dar conta de que algo não vai bem”, salienta.
Milliane afirma que a depressão atípica é um especificador do transtorno depressivo maior e que os sintomas variam dos critérios da depressão tradicional. “Um sintoma específico da depressão atípica é uma melhora temporária do humor em resposta a eventos positivos reais ou potenciais. Além de reatividade do humor aumentada (melhora rapidamente com eventos positivos e piora rapidamente com eventos negativos), o indivíduo deve apresentar pelo menos dois dos seguintes sintomas: aumento de peso ou aumento do apetite; aumento do sono; sensação de corpo, braços ou pernas muito pesados; sensibilidade exagerada à rejeição dos outros”, especifica.
Tratamentos
Em conjunto, os sintomas da depressão atípica afetam muito o cotidiano e as relações das pessoas, por isso o tratamento médico é tão importante, de acordo com a psiquiatra – que também é idealizadora da clínica homônima (www.millianerossafa.com.br).
Milliane aborda que, ao perceber que seu comportamento está trazendo prejuízos persistentes à vida cotidiana, que sintomas de medo, tristeza, ansiedade, depressão, raiva, angústia e procrastinação passam a ser constantes, o indivíduo precisa buscar ajuda profissional. “O ideal é buscar ajuda do psiquiatra e psicólogo. Em muitos casos, os antidepressivos são indicados como tratamento, associados à psicoterapia”, ressalta.
Muitos estudos também indicam o Cloridrato de Escetamina – conhecido como cetamina ou ketamina – como um fármaco eficiente no tratamento da depressão resistente quando utilizado em doses muito menores que para fim anestésico, segundo a psiquiatra. Embora a medicação tenha sido bastante polemizada em virtude do caso criminal envolvendo a ex-sinhazinha do boi bumbá Garantido Djidja Cardoso, Milliane destaca que o uso da cetamina para o tratamento desse subtipo no Brasil “deu uma nova esperança aos pacientes”.
“A cetamina é um potente anestésico que existe há mais de 50 anos e é muito utilizado na psiquiatria. Descobriu-se que, em dose baixa, esse anestésico funciona como um antidepressivo de ação rápida, indicado para depressão resistente ou ideação suicida. As aplicações devem ser feitas em uma clínica médica autorizada”, descreve.
A psiquiatra enfatiza que a medicação é indicada somente quando a resposta ao tratamento convencional (com outros psicotrópicos) não está sendo significativa ou há alguma tolerância. Ela lembra que, caso o paciente não tome a medicação corretamente, não terá benefícios no tratamento e ainda pode ser acometido por reações adversas.
“A melhor forma de tratar a condição é seguindo todas as recomendações de um profissional. Busque ajuda. Tome as medicações indicadas de forma responsável, com auxílio de um médico especialista”, finaliza.