A humanidade em geral está adoecida e as mulheres diante da maternidade estão mais sujeitas a sofrerem com questões de saúde em todos os níveis pela sobrecarga. O que eu observo do ponto de vista feminino é que o acúmulo de funções e a consequente falta de respeito aos tempos internos é a grande causa desse problema. Atualmente quando uma pessoa quer demostrar que é bem-sucedida, ela mostra nas redes sociais o quão ocupada ela é, com milhares de afazeres no campo profissional e pessoal como se essa “produtividade” fosse um termômetro para ter uma vida interessante e dinâmica. Obviamente ter uma vida preenchida com atividades de qualidade é fundamental, porém, uma pessoa que vive de forma frenética (especialmente nas grandes cidades) e a consequente falta de momentos ociosos para recarregar as energias é nocivo para saúde, pois é justamente nesse vazio que mora o espaço para a reflexão, conexão com si mesma e o poder criativo.
Nós mulheres somos cíclicas e compreender os nossos ciclos orgânicos naturais é estar em harmonia com o que está acontecendo dentro fora de nós. Enquanto ignoramos isso, ficamos fragmentadas por não estarmos inteiras em nós mesmas. Ao perder a conexão com essa ciclicidade, nos identificamos como mulheres “unifacetadas” ao invés de perceber que somos muitas mulheres em uma, multifacetadas – não no sentido de fazer mil coisas ao mesmo tempo ao longo da vida, mas porque estamos mudando diariamente nossas fases e ciclos – dentro de nós mesmas e na forma como expressamos quem somos.
Geralmente quando uma mulher oscila o humor é repreendida e vista como inadequada e inconstante, como se o ideal fosse ser sempre linear, e por acreditar nisso também porque fomos ensinadas a não desagradar os outros, ignoramos nossos ciclos internos que flutuam junto com nossos hormônios e entramos no piloto automático da vida – e é nesse lugar de desconexão que perdemos de vista quem realmente somos, nossa graciosidade e alegria de viver.
Quando perdemos a consciência do nosso feminino, começamos a entrar num movimento que é muito patriarcal, capitalista e colonialista cuja a intenção desse sistema é que sejamos de alguma forma a manifestação e a expressão do que ele propõe: que trabalhemos das 9h00 às 18h00 de segunda a sexta, ou seja, esse sistema quer que não paremos de trabalhar nunca, já que o que “produzimos” e “ desenvolvemos” é o bem mais valioso para o capitalismo que é o capital humano (pessoas) e para isso é interessante que sejamos lineares, sem flutuações e de uma forma a não nos movermos diante dos nossos ímpetos internos, instintos e intuições e somente responder a uma demanda de produtividade trabalhando dentro e fora de casa de forma incansável.
Fomos educadas a nos tornamos uma só: lineares e produtivas e com isso, atendemos a uma necessidade do sistema acreditando que isso é o melhor a ser feito. O grande problema é que ao atuamos assim na vida, estamos deteriorando partes muito importantes do nosso ser, primeiro porque se estamos crescendo verticalmente em um único aspecto, e provavelmente existem aspectos internos que não estão sendo vistos, acolhidos e cuidados – e daí nasce as doenças do corpo, da mente e do espírito.Por isso o autoconhecimento, o autocuidado, o respeito aos nossos ciclos internos e as pequenas pausas ao longo dos dias, são fundamentais para uma vida saudável, consciente, equilibrada e feliz.
Em contraponto a reconexão com o feminino, estamos numa era feminista e necessária na busca da igualdade de direitos e oportunidades, e como consequência existe um renegar muito grande de todas as cargas que foram atribuídas as mulheres como obrigações de gênero, como por exemplo, fazer uma comida, limpar a casa e cuidar dos filhos, mas no que diz respeito ao feminino, o resgate ao cuidado não como obrigação, mas como experimentação e reconexão com todas as nossas partes e aspectos se torna algo importante. Cuidar da casa como um templo, limpar e transmutar o que está estagnado, fazer o alimento trabalhando o processo de nutrição própria e dos que amamos são ações que nos convidam a retornar para nossa essência feminina que é sagrada e criativa.
Cada vez mais mulheres têm buscado a independência financeira e a liberdade para tomar suas próprias decisões e isso é uma revolução, mas apesar das causas feministas, o ideal é que as questões inerentes ao feminino e a conexão interior com nossa natureza e ciclicidade não sejam negligenciadas, pois quando são, causam grandes prejuízos na vida das mulheres. Além disso, quando uma mulher tem consciência desse seu aspecto, ela recupera o poder interior para conduzir as alegrias e adversidades da vida de forma mais serena e empoderada.
Um ponto atual sobre o feminismo é o crescente questionamento dos papéis tradicionais de gênero. A maternidade também está relacionada às novas configurações familiares que têm surgido na contemporaneidade. Hoje em dia, existem famílias formadas por pais e mães do mesmo sexo, famílias uniparentais, famílias monoparentais, entre outras. Muitas mulheres optam por não ter filhos ou por adiar a maternidade para mais tarde congelando óvulos, por exemplo, enquanto outras optam por serem mães solo ou por terem filhos em relacionamentos homoafetivos. Isso tem levado a uma maior diversidade de modelos familiares e a uma maior reflexão sobre a maternidade como uma escolha pessoal, e não apenas um papel socialmente imposto. Isso tem levado a mudanças nos modelos de família e na forma como as mulheres vivenciam a maternidade nesse momento histórico.
As técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro e a adoção têm possibilitado que pessoas que não conseguem ter filhos biológicos possam realizar o sonho da maternidade. No entanto, esses modelos também podem trazer dilemas éticos e jurídicos.
Essa temática é complexa e embora tenham ocorrido mudanças significativas nas últimas décadas, as mães ainda enfrentam desafios estruturais e emocionais que precisam ser abordados. É fundamental que a sociedade como um todo reflita sobre essas questões e trabalhe em conjunto para garantir que as mulheres possam exercer sua maternidade de forma plena, saudável e feliz.