A bicampeã olímpica Jaqueline é uma das maiores atletas da história do vôlei brasileiro e mundial e também é uma espécie de camaleoa. Nem sempre por escolha. Começou como uma necessidade. Ocorreu no início da carreira e também mais recentemente, impulsionada pela transição na carreira, de dentro para fora das quadras. E também por fatores externos, como no período de pandemia, quando exercitou ainda mais a vocação como comunicadora, especialmente nas redes sociais.
Em 2001, aos 17 anos, foi eleita a melhor jogadora do Campeonato Mundial de Vôlei Juvenil. Um ano depois, Jaque rompeu o ligamento cruzado do joelho esquerdo e passou seis meses sem jogar em função da cirurgia. No retorno às quadras, no segundo dia, torceu novamente o mesmo joelho e drama recomeçou. Nova operação e, o período acumulado de afastamento superou um ano.
“Eu poderia ter desistido. Seria muito fácil, pois eu tinha desculpa perfeita. Seria só alegar que não consegui seguir em frente em função das lesões. Mas o que eu mais queria era jogar e provar que eu era capaz”, conta.
Antes da consagração com duas medalhas olímpicas, ela passaria por novas provações. Sofreu uma trombose com possibilidade de amputação do braço em função de complicações com a circulação sanguínea de sua mão e uma concussão cerebral e fratura cervical nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, no México, em 2011.
O reflexo dessas lesões, especialmente no joelho esquerdo, levou Jaque a se reinventar pela primeira vez. “Eu sempre fui muito atacante e queria pontuar, pontuar, pontuar. Depois das cirurgias, vi que realmente não saltava como antes, pelas dificuldades do joelho. Então, vi que tinha que me adaptar em alguma coisa. Pensei, tenho que treinar mais passe e defesa. Se não vou ser e melhor atacante, posso fazer alguma coisa para ajudar minhas melhoras atacantes. E foi isso que eu fiz. Treinei muito passe e defesa e deu certo. Nunca havia sido grande passadora antes das lesões e provei que quando quer, aprende. Me descobri de outras maneiras”, conta.
Aposentada das quadras, Jaque passa por uma nova fase de vida. “Estou me reinventando. E a transição nunca é fácil para uma atleta. Eu ainda evito ver jogos, pois sofro um pouco. Afinal, foi minha rotina desde os 14 anos. Como sempre gostei de comunicação, redes sociais, e hoje estou fazendo coisas novas, como apresentar o podcast Banca Braba. O vôlei passou e quero fazer coisas diferentes, entre projetos sociais e formação de atletas”, revela Jaqueline.
Com 1,7 milhão de seguidores do Instagram, mais 1,3 milhão no TikTok e outros cerca de 500 mil no Twitter, Jaque comprova, novamente, sua capacidade de adaptação para uma nova fase de vida, agora como produtora de conteúdo. Durante o Summit da Liga Esportiva Nescau, evento on-line destinado a profissionais e estudantes de educação física, ela deu cinco dicas sobre para pessoas enfrentaram a transição de carreira.
1 – Acreditar nas próprias capacidades
“Se você acreditou em tudo que fez até agora, é preciso seguir assim. Eu sempre acreditei, me dediquei muito e vi resultados na carreira. Me tornei uma atleta consagrada e sei que se eu fizer qualquer outra coisa na vida, se tiver um objeto, vai valer a pena e vai dar certo. Tem que acreditar na pessoa que você é e nunca deixar que nada te afete”.
2 – Encontrar uma atividade que goste de fazer
“Quando encontrar um novo projeto, profissão ou atividade que goste, vá em frente. Quando isso acontece, como aconteceu comigo, me entrego de verdade no que quero e me proponho a fazer”.
3 – Se preparar para os novos desafios
“Sempre me dediquei ao máximo no vôlei e estou fazendo isso nas minhas novas atividades, seja na atuação nas redes sociais como no podcast. Para fazer bem-feito é preciso preparação e dedicação constante para chegar lá”.
4 – Focar na meta e trabalhar, trabalhar, trabalhar
“Sempre olho para frente, com foco total no que quero fazer. Podemos comparar com aquele tapa olho lateral que se coloca nos cavalos, pois tento não olhar para os lados e jamais desfocar dos objetivos (Jaque cita os antolhos, um acessório que se coloca na cabeça de animal para limitar sua visão e forçá-lo a olhar apenas para a frente, e não para os lados, evitando que se distraiam ou se espantem e saiam do rumo).”
5 – Desistir, nem pensar
“Eu poderia ter desistido quando sofri minhas lesões. E teria um argumento muito fácil para justificar uma eventual aposentadoria precoce das quadras. Mas não era isso que eu queria. Eu queria dar a volta por cima, me superar e mostrar que eu podia me transformar no que sou hoje. E hoje, quero me transformar na pessoa que serei amanhã, trabalhando com comunicação e o que mais aparecer pela frente”.