A garantia de um sistema educacional inclusivo está prevista em lei e, embora cerca de 25% dos brasileiros possuam algum tipo de deficiência, segundo dados do IBGE, em índices gerais, o número expressivo não é acompanhado pelo acesso, na prática, às instituições de Nível Superior. Dados do Censo da Educação de 2018 revelam que apenas 0,52% dos 8,45 milhões de estudantes matriculados em faculdades, no período, tinham algum tipo de deficiência. Ainda que esse número venha mudando, o percentual mostra que existe uma lacuna entre aquilo que preconiza a legislação e a experiência real das pessoas com deficiência que buscam uma vaga nas universidades.
Estudante do 3º semestre de Gastronomia, Giovanna Ribeiro, que nasceu com trissomia do cromossomo 21, ingressou no curso que escolheu para sua formação profissional, na Universidade Salvador (UNIFACS), e o caminho que trilhou, em autonomia e desenvolvimento pleno das potencialidades, ressalta que a limitação só existe na medida do preconceito.
No caso da graduação na capital baiana, a mãe da estudante Giovanna, Daniela Ribeiro, conta que a UNIFACS vem trazendo os estímulos necessários, pautada na educação para a diversidade. “Quando uma instituição como a UNIFACS está predisposta a contribuir com o sucesso da pessoa com deficiência oferecendo um ambiente favorável à educação delas, isso é fundamental. É a escola apostar nos seus alunos e entender que a deficiência não é um motivo de rejeição; muito pelo contrário. Acho que quanto mais a Universidade Salvador receber e incentivar que outros alunos com deficiência façam o vestibular, isso vai ser ótimo, porque a turma toda cresce”, afirma Daniela Ribeiro.
Para o pedagogo, mestre e especialista em Psicologia da Educação Antônio Gouveia, coordenador do curso de Pedagogia e da Pós-Graduação em Educação da UNIFACS, a educação deveria ser, por natureza, inclusiva. “Instituições de educação são socializadoras. Um dos principais objetivos da instituição de educação é a inserção social, e a gente precisa pensar isso de forma ampla para todos os sujeitos”, ressalta Gouveia, que fala também sobre o Núcleo de Apoio Psicopedagógico (NAP) da universidade voltado à inclusão. “Esse núcleo vai assegurar, durante toda a trajetória acadêmica, os dispositivos e infraestruturas necessários para o crescimento e aprendizagem de forma igualitária, como todos os outros alunos”, afirma.
A limitação é o preconceito
O encontro de Giovanna Ribeiro com a gastronomia aponta agora para novas perspectivas. “Quando eu terminar meu curso quero abrir meu próprio food truck com opções de comida caseira”, revela. A estudante diz ainda que deve contar com o apoio do namorado, que é formado em Gastronomia, e do pai, que é dono de restaurante.
“Quando ela começou as aulas, foi uma alegria, porque foi um movimento de transição da vida escolar para a vida adulta, com mais responsabilidades, e ela foi muito bem recebida pela turma e pelos professores. Antes, eu estava muito à frente, nas escolas. Era a minha voz. Na faculdade, não. É ela que resolve os problemas, que pega o telefone, liga, se resolve, estuda, faz as provas. Ela passa, ela perde. Eu saí de cena e ela está protagonizando a vida dela, como realmente deve ser”, conta, orgulhosa, a mãe.
Para o professor Antônio Gouveia, os estímulos, o compartilhamento, em sala de aula, a interação e a inserção no ensino regular contribuem para o desenvolvimento e a autonomia. “O indivíduo depende de estímulos do meio no qual está inserido, então, sem dúvidas, a inserção na aprendizagem formal, junto com os colegas, ajuda a promover a emancipação, a aprendizagem, o desenvolvimento. O processo educativo traz uma série de contribuições para o indivíduo, tenha ele uma deficiência declarada ou não”, afirma.