Com o avanço da idade, uma das queixas mais recorrentes em consultórios de cirurgia plástica concentra-se na região abaixo do queixo. A flacidez na linha da mandíbula e no pescoço — popularmente conhecida como “pescoço de peru” ou “buldogue facial” — tornou-se um dos sinais mais evidentes do envelhecimento e, ao mesmo tempo, um dos mais difíceis de disfarçar. Se no passado essa área era secundária na avaliação estética, hoje ocupa papel central. O crescimento das videoconferências e da cultura do “selfie” fez do contorno facial um ponto de atenção constante, valorizado tanto pelo paciente quanto pelo cirurgião.
Segundo dados da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica Estética (ASAPS), nos últimos cinco anos houve um aumento de 29% nos procedimentos voltados para a região cervical e mandibular, incluindo desde o lifting cirúrgico até abordagens minimamente invasivas. Isso revela não apenas a importância crescente do terço inferior da face, mas também a mudança no olhar do paciente, cada vez mais atento à harmonia global do rosto. O pescoço, por sua vez, apresenta particularidades anatômicas que favorecem o envelhecimento precoce: musculatura delgada, como o platisma, gordura submentoniana, pele fina e pobre em colágeno. A ação constante da gravidade, associada à movimentação muscular e à falta de proteção solar adequada, acelera o surgimento de flacidez, bandas platismais e perda do contorno mandibular, comprometendo o equilíbrio estético e a percepção de juventude.
O tratamento dessa região evoluiu consideravelmente nas últimas décadas. O lifting cervical permanece como o procedimento cirúrgico mais eficaz para casos de flacidez moderada a grave, envolvendo o reposicionamento do platisma, a retirada do excesso de pele e, quando necessário, a lipoaspiração da gordura submentoniana. Em muitos casos, pode ser realizado isoladamente ou em associação ao lifting facial, com incisões discretas atrás da orelha e sob o queixo. Para pacientes mais jovens, com flacidez leve a moderada, a lipoaspiração submentoniana associada à suspensão do platisma surge como alternativa eficaz, com cicatrizes mínimas, rápida recuperação e possibilidade de realização sob anestesia local.
Recursos tecnológicos também desempenham papel relevante nesse cenário. Procedimentos como ultrassom microfocado, radiofrequência fracionada e bioestimuladores injetáveis, como a hidroxiapatita de cálcio, estimulam a produção de colágeno e melhoram a firmeza da pele, funcionando como medidas preventivas ou complementares. Os fios de sustentação, embora de efeito temporário e indicação restrita, podem ser úteis em casos bem selecionados, oferecendo resultados satisfatórios e, em alguns pacientes, adiando a necessidade de cirurgia.
A cirurgia plástica moderna afasta-se de protocolos padronizados, pois cada paciente apresenta um padrão próprio de envelhecimento, determinado por fatores genéticos, estrutura óssea, qualidade da pele e estilo de vida. Cabe ao cirurgião avaliar volumes perdidos, vetores de queda, características da pele e até mesmo aspectos emocionais, de modo a propor um tratamento individualizado que una segurança, ciência e sensibilidade estética.
O contorno mandibular bem definido e um pescoço firme são elementos fundamentais para a harmonia facial. Hoje, dispomos de uma ampla gama de técnicas refinadas que permitem resultados eficazes, seguros e, sobretudo, naturais. Como destacou o professor Ivo Pitanguy, referência mundial da cirurgia plástica: “A beleza é um direito do ser humano, pois traduz o equilíbrio entre corpo e espírito.” Essa visão sintetiza a essência do rejuvenescimento moderno, que não se limita a tracionar tecidos, mas busca restaurar o equilíbrio da face com sutileza e respeito à identidade de cada indivíduo.
A região cervical, muitas vezes negligenciada, passou a ocupar lugar de destaque no rejuvenescimento facial. Quando tratada com precisão e sensibilidade, transforma não apenas o perfil, mas também a autoestima, reafirmando o papel da cirurgia plástica contemporânea em promover resultados duradouros e em plena harmonia com a individualidade de cada paciente.
EDUARDO SUCUPIRA – Cirurgião Plástico, realizou a sua formação no Serviço do Prof. Ivo Pitanguy(1997-1999). É Especialista e Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) e da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS). Membro internacional da American Society for Aesthetic Plastic Surgery (ASAPS). Mestre e Doutor pelo Programa de Cirurgia Translacional da Escola Paulista de Medicina pela Universidade Federal de São Paulo.