Cultura
Estudo inédito mostra que para 83,5% dos brasileiros, atividades e bens culturais os ajudam a entender melhor as mudanças climáticas
Levantamento inédito lançado na COP 30 aponta a relação das atividades e bens culturais com a percepção da sociedade sobre mudanças climáticas
A cultura ganhou protagonismo na agenda climática brasileira. De acordo com o estudo “Cultura e Clima: Percepções e Práticas no Brasil”, realizado pelo C de Cultura e pela Outra Onda Conteúdo, com parceria técnica da PUC-RS, 83,5% dos brasileiros afirmam que atividades e bens culturais os ajudam a entender melhor as mudanças climáticas. O levantamento revela que, para a maioria da população, a cultura não apenas comunica a crise, mas também inspira ação e transforma comportamentos.
A pesquisa ouviu 2.074 pessoas de todas as regiões do país, com amostragem representativa por gênero, raça e região, margem de erro de 3% e intervalo de confiança de 95%. O objetivo foi investigar como a população brasileira percebe a relação entre cultura e clima e de que forma essas práticas podem influenciar o engajamento ambiental.
O resultado mostra um quadro de consciência crescente: 82% dos entrevistados se dizem preocupados com as mudanças climáticas e 80% veem o fenômeno como um grande risco para a sociedade. No entanto, o senso de ameaça é mais forte no plano coletivo — 66% enxergam risco para sua comunidade — do que individual, onde o índice cai para 59%.
Em relação à cultura, mais da metade da população (54,6%) já busca informações sobre o clima em fontes culturais, como livros, filmes, museus e exposições. Para 62,6%, alguma obra cultural os inspirou a mudar hábitos ligados à sustentabilidade. O dado reforça o papel central da cultura como tradutora da ciência e mobilizadora de mudanças cotidianas.
“A cultura é uma ponte entre o saber científico e o popular. Ela emociona, traduz e mobiliza. Colocar a cultura no centro da ação climática é fundamental para que a transformação seja possível”, afirma Mariana Resegue, diretora executiva do C de Cultura. “Os resultados contribuem para futuras ações de governos nacionais, subnacionais, gestores culturais, além da indústria de entretenimento e fazedores de cultura nos mais diversos territórios”, afirma Eduardo Carvalho, diretor-fundador da Outra Onda Conteúdo.
Os dados também indicam que 77,5% dos entrevistados valorizam os saberes de povos indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais, reconhecendo seu papel na adaptação às mudanças do clima e na conservação ambiental.
Barreiras – Já sobre os obstáculos que limitam a força mobilizadora da cultura para a preservação do meio ambiente, a pesquisa mostra que a linguagem usada para abordar as questões sobre clima ainda é percebida como elitizada, e a polarização política cria desconfiança sobre as mensagens ambientais. Parte do público demanda uma comunicação mais neutra e baseada em informações confiáveis. Segundo os autores, o desafio é unir sensibilidade e clareza, evitando tanto o tecnicismo quanto o viés ideológico.
Além disso, 52,4% dos brasileiros afirmam sentir-se impotentes diante da crise climática, e 25,6% dizem não saber que ações podem adotar para contribuir. Essa sensação de paralisia reforça a necessidade de usar a cultura como instrumento de engajamento prático — um meio de transformar a preocupação em ação coletiva.
O Clima nas urnas – A pauta climática começa a influenciar o comportamento político dos brasileiros. Quase 90% dos entrevistados consideram importante eleger políticos comprometidos com sustentabilidade e justiça social, e 43,1% disseram ter levado em conta propostas climáticas ao escolher o voto nas últimas eleições.
O recorte de gênero mostra um diferencial expressivo: 94,2% das mulheres consideram a pauta climática essencial, contra 84,4% dos homens. A diferença reforça o papel das mulheres como público mais engajado e sensível às questões ambientais.
A percepção de desigualdade também é marcante. 53,8% dos entrevistados afirmam que as populações de baixa renda são as mais afetadas pelas mudanças do clima, seguidas por 34,3% das comunidades tradicionais. Apenas 9,2% reconhecem o impacto desproporcional sobre mulheres e meninas, evidenciando a necessidade de integrar a perspectiva de gênero e justiça social nas políticas climáticas.
Responsáveis e ausentes — A pesquisa também revela uma dissociação entre quem é visto como responsável pela crise climática e quem realmente atua para enfrentá-la. Empresas e indústrias são apontadas por 72,5% dos brasileiros como principais responsáveis, seguidas pelos governos (45%). No entanto, quando perguntados sobre quem mais contribui para resolver o problema, os entrevistados destacaram a comunidade científica (34,9%) e as ONGs (33,7%). Apenas 10,4% acreditam que os cidadãos estejam fazendo sua parte.
Essa percepção mostra que o público espera ações mais consistentes do setor privado e dos governos, e vê na ciência e na sociedade civil os agentes que de fato estão agindo. Para os realizadores do estudo, a conclusão é clara: falta coerência entre responsabilidade e prática, o que reforça a urgência de políticas públicas e empresariais que alinhem discurso e ação.
A partir da análise dos dados, o relatório propõe três grandes eixos de ação:
- Traduzir a ciência em emoção, incorporando a pauta climática em produtos culturais populares — de novelas a canções e séries;
- Ampliar o acesso cultural, com políticas de circulação, gratuidades e acessibilidade física e digital, sobretudo em regiões periféricas;
- Reconstruir pontes de confiança, valorizando lideranças comunitárias, artistas locais e instituições culturais que possam dialogar com públicos distintos e reduzir a polarização.
SERVIÇO:
O relatório completo e o sumário executivo estarão disponíveis na página da pesquisa https://culturaeclima.com.br/
Sobre a organização C de Cultura: www.cdecultura.com.br

