Flua é um espetáculo cênico para bebês de 0 a 3 anos que propõe um convite à experimentação de materialidades maleáveis em um espaço flexível às interações espontâneas entre performer, bebês e suas famílias. Em sessões intimistas, agrega linguagens contemporâneas em um ambiente acolhedor para que o público literalmente possa entrar na cena e interagir com os elementos cênicos, partilhando múltiplas narrativas e inventando diferentes paisagens junto com performers da luz, do corpo e do som.
A cada cena, a mistura entre as partes e o todo possibilita a criação de imagens efêmeras que promovem conexão com o feminino, com o nascimento e com outras forças arquetípicas que transbordam em cada participante durante o ato criativo. Uma experiência sensorial, de convívio entre diferentes corpos e de percepção de um espaço em transformação contínua.
Em Flua, a história que queremos contar é sobre a impermanência, sobre a capacidade humana de permear-se pelos instantes e deixar-se levar pelos encontros. Tal qual uma dança, o espetáculo Flua é uma experiência para se perceber que a vida é esse lugar das incertezas. Por isso, é um espetáculo em que as cenas não estão rígidas ou previamente determinadas por um roteiro, pois entende-se que o enredo dessa história sobre a fluidez também pode ser contada pelo modo como se vivencia o espetáculo, principalmente quando se trata do público da Primeiríssima Infância, sensível às forças estéticas.
É importante mencionar que Flua é um espetáculo in progress, ou seja, um espetáculo poroso a adaptações dramatúrgicas que se fazem ao longo das trocas entre performers e público em cada experiência de encontro, que deixam memórias e vão apontando hipóteses para novas construções cênicas no por vir. Desamarra-se, portanto, a rigidez de uma dramaturgia constituída a priori, já que para experimentarmos a deshierarquização das relações com bebês é importante provar o estado de “novidade”, “receptividade” e “improviso” que só se faz na escuta e na relação genuína com os corpos presentes nos instantes dos encontros.
Grande parte do impulso para se criar Flua teve a ver com os reflexos da pandemia covid-19, pois com o isolamento social e com as relações mais distantes, a rigidez na coreografia dos encontros se fez ainda mais presente, prejudicando ainda mais a qualidade da presença e espontaneidade nos encontros em sociedade. O corpo dos adultos passou a ficar condicionado pelo controle das máscaras e da higienização, trazendo uma série de tensões que naturalmente são repassadas aos seres recém chegados ao mundo. Deste modo, Flua traz a oportunidade de reconexão com o feminino, que traz o chamado para a possibilidade de receber e interagir com aquilo que se apresenta, sem antecipar ou ditar o que há de vir.
Por fim, permeado por aquilo que se sente e aquilo que é gerado junto com o outro, Flua nasce para que o público e performers interajam a partir da mediação de um terceiro elemento feito de uma materialidade porosa e maleável, que é manipulada e brincada por todas as pessoas ali presentes, a fim de criar um lugar comum. Podemos dizer que a espacialidade em Flua é, portanto, determinante para repensarmos a importância dos lugares em uma “dramaturgia dos acontecimentos” que se fazem não apenas no teatro, na dança ou na performance, mas, sobretudo, na vida.
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SOBRE O PROJETO
Sensatio-Bebê Encena é um projeto criado em 2019 pela artista e educadora Bruna Paiva a partir da pesquisa Sensatio, desenvolvida por ela em sua atuação como educadora no Sesc São Paulo a partir da elaboração de cinco propostas experimentais no Sesc Avenida Paulista (Rolos e Limões, Amarelo, Sideral, Morfos e Na pele, o pó) e outras três no Sesc Santos (Kairós com cores, Cosmococas Sensoriais, Festa do Branco).
Trata-se de um projeto premiado pelo edital Petrobras Cultural para Crianças (Artes Cênicas) em 2019, uma iniciativa de extrema importância para a promoção artística para a Primeira Infância do território brasileiro. Recebeu patrocínio da Petrobras e apoio da Casale a partir de 2020 via Lei de Incentivo à Cultura, bem como parceria da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, Secretaria Municipal de São Carlos.
Neste projeto propõe-se a realização de uma nova montagem cênica e a sua circulação em seis territórios distintos do Brasil, sendo quatro no Estado de São Paulo (São Paulo-capital, Santos, São Sebastião e São Carlos) e dois no Estado da Bahia (Salvador e Santo Amaro), estes últimos escolhidos como forma de descentralizar o acesso da arte do eixo Rio-São Paulo, fortalecendo a presença da cultura em cidades com população menor de 250 mil habitantes.
Como todo projeto financiado por leis federais, o projeto também propôs algumas contrapartidas sociais e outras atividades paralelas que já foram realizadas: ações formativas (oficinas e workshop) para educadores do município de São Paulo e São Carlos, atendendo cerca de 400 professores; e a produção e divulgação de vídeos educativos, lançados em outubro de 2022 na Semana da Criança sob título “Nascente”, que traz a participação de seis mães artistas como criadoras de uma trilha poética de verbos que inspiram novos modos de convivência com bebês. Estes vídeos podem ser visualizados no canal do youtube do projeto (Sensatio Bebê Encena).
Vale ressaltar que todas as atividades e a montagem do espetáculo cênico produzido levou em consideração o percurso já traçado pela pesquisa Sensatio (sensação, em latim), que tem como seu elemento central a interatividade e o protagonismo dos bebês na cena, se materializando sob a forma de “experiência imersiva” ou “instalação cênica” (coreográfica, performática, duracional, de jogo). Tem como proposta a experimentação de outras formas de se relacionar consigo, com os outros, com o tempo expandido e com este pequeno “mundo comum” composto também por formas e forças de materialidades arranjadas no espaço. Neste sentido, busca desenvolver na prática novas propostas de exercício de escuta e de relação horizontal com a primeiríssima infância, evidenciando o protagonismo do bebê.
O foco da pesquisa está na construção de um lugar onde o tempo dilata-se para abraçar o ritmo dos bebês e o silêncio/vazio prevalece como dispositivo fundamental para tornar “visível” as expressividades manifestadas pelos bebês que, por sua vez, são materiais para a composição dramatúrgica. Instruções precisas de silêncio e movimentos lentos, objetos cenográficos-performáticos, rituais dramatúrgicos e a qualificação da presença dos adultos na cena são alguns dos dispositivos utilizados para criar esta atmosfera relacional, estética e investigativa em todos os participantes.
Deste modo, sob os eixos estéticos, éticos e políticos, a pesquisa busca questionar o predomínio do imaginário adultocêntrico nas relações e tenta redefinir tais hierarquias, elegendo “o sentir” como veículo principal de linguagem, uma vez que é a forma comum de se relacionar com mundo à todas as pessoas vivas, independente de sua condição. Nesta perspectiva, a pesquisa Sensatio apresenta a oportunidade de emergir situações desviantes nos modos como o corpo dos bebês é compreendido pelo adulto e no modo como o corpo dos adultos se posiciona nas relações com bebês. Deste modo, a pesquisa carrega em si dispositivos de caráter socioeducativo para que, através de novos posicionamentos na relação, bebês possam ser verdadeiramente compreendidos em sua potência sensória e adultos possam experimentar outros modos de estar presente no mundo e na relação com seu bebê.
SOBRE BRUNA PAIVA
Bruna Paiva é educadora, artista multilinguagem e pesquisadora residente em São Paulo (SP). É formada em Educação Física (UNESP), mestre em Educação (UNESP) e especialista em Estéticas Tecnológicas (PUC), possuindo formação nas linguagens da performance, instalação, dança e vídeo com artistas nacionais e internacionais. Seu processo criativo funda-se nas relações que estabelece em seu cotidiano, o qual apresenta questões relacionadas ao tempo, liberdade, afeto e sensação. Utiliza o corpo, espaço e materialidades variadas (industriais, orgânicas, etc) como suporte das experiências relacionais que, por sua vez, convidam o público a estabelecer uma outra conduta frente ao outro e, assim, conhecer novas formas de presença, atenção e composição no mundo.
Atua como educadora há doze anos junto às infâncias e atualmente integra o Núcleo socioeducativo do Sesc Avenida Paulista. Atuou como consultora na implementação da edição piloto do Programa de Iniciação Artística para Primeira Infância (piapi) junto à Supervisão de Formação Cultural da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo.
SERVIÇO
Flua, de Sensatio Bebê em Cena
Apresentações: 3 e 4 de fevereiro, às 11h, às 14h e às 16h
Teatro de Arena Rosinha Mastrângelo – Centro Cultural Patrícia Galvão – Av. Senador Pinheiro Machado, 48 – Vila Matias, Santos – SP, 11075-000
Duração: 50 min
Ingressos: Gratuitos
FICHA TÉCNICA
Direção | Bruna Paiva
Produção | Ana Luiza Bruno (Serena Infância)
Elenco | Talita Vinagre, Raoni Garcia, Camila Miranda
Luz | Roma Muniz
Cenografia | Roma Muniz
Figurino | San Pestana
Costura | Deni Chagas
Design | Mariana Laccana
Assessoria de Imprensa | Pombo Correio
Patrocínio | Petrobras
Apoio | Casale
Realização | Ministério da Cultura