Papéis renomados marcam a carreira de Déo Garcez. Agora, o ator já se prepara para interpretar Domingos, em Fuzuê, a próxima novela das 19h, da TV Globo, escrita pelo autor Gustavo Reiz, que estreia na emissora, e dirigida por Fabrício Mamberti. Antes de migrar à teledramaturgia, Déo viveu inúmeros personagens no teatro. Orgulhoso, relembra todos. O primeiro de destaque, já na tv, foi Paulo, em Xica da Silva, de Walcyr Carrasco, com direção de Walter Avancini. Na trama, exibida pela extinta TV Manchete, o mucamo integrou um triângulo amoroso com Elvira (Giovanna Antonelli) e José Maria (Guilherme Piva).
Mas, até chegar aos bastidores de Xica, conta que fez testes com 150 atores, entre cariocas e não cariocas. Obteve êxito e aprovação do diretor Walter Avancini. “Um ano e meio após eu chegar no Rio de Janeiro, surgiu essa oportunidade. Uma felicidade imensa! Minha vida mudou da água para o vinho, naquele momento. Uma repercussão, altamente positiva. Paulo, do elenco de apoio, se tornou um dos principais desse núcleo. Ele se destacou! Também na Manchete, atuei como o cangaceiro Godê, em Mandacaru (1997)”.
Depois, na TV Globo, em O Cravo e a Rosa, de Walcyr Carrasco, Déo se tornou Ezequiel, que com o seu charme, batalhou para conquistar o coração da vilã Marcela (Drica Moraes), porém sua paixão nunca foi correspondida.
Após isso, seguiu ao SBT, e em Canavial de Paixões, virou “Vicente”, um empregado da usina, fiel e trabalhador. Não se dava bem com Agenor (Oscar Magrini) e era apaixonado por Lourdes (Teresa Cohen).
Em 2004, sentiu a fundo o sofrimento e as lutas pelo bem estar do povo preto escravizado, na pele de André. Em A Escrava Isaura (Record TV), o escravo montou quilombos e virou um líder abolicionista. No entanto, acabou não vendo o que tanto almejava: a abolição da escravatura. Acrescenta: “É importante ressaltar que os negros escravizados, ao serem libertos, não tinham onde morar, direito à terras, à educação, à saúde, à nada”.
Se o assunto é racismo no Brasil, completa: “Ainda é muito forte, pois o sistema escravocrata deixou sequelas enormes. Cidadãos pretos, hoje, passam por esse preconceito, diariamente. Quando se pensa, no país, a cada 23 minutos, jovens pretos são assassinados, é estarrecedor; que a população negra é excluída, sem condições em nível de igualdade, na sociedade, em termos econômicos… isso reflete essa mentalidade retrógrada, com um pensamento voltado para os racistas, uma consequência do cruel sistema escravocrata”.
Com “amor ao próximo”, nasceu o Sr. Morales. De volta ao SBT, em Carrossel (2012), o Sr. Morales era o benfeitor da Escola Mundial. E em uma das cenas, contou aos alunos do colégio (3° ano) sobre a triste infância, quando Cirilo (Jean Paulo Campos) assistiu às aulas com sandálias de borracha, por não ter condições de comprar sapatos. Com relação ao investimento em crianças, de famílias de baixa renda, Déo declara: “Em nosso atual governo, há projetos sociais inclusivos, de suma importância. Desejamos que sejam colocados em prática, em prol de uma sociedade mais igualitária, mais justa, mais reparativa”.
Mar do Sertão, Globo (2022). Segundo Déo, o capataz Catão, um marco para o seu percurso. “Me entreguei de corpo e alma! Nunca houve tanta representatividade! 12 atores negros e 22 nordestinos. Eu me senti, duplamente, representado. Todavia, infelizmente, essas condições contribuem para dois tipos de discriminação: xenofobia e o racismo. E como digo: algo intencional da Rede Globo em fazer essa reparação, essa inclusão, fundamentalmente, necessária”.
Fuzuê. “É cedo para eu contar detalhes, contudo, adianto para vocês que, com certeza, vai ser uma novela linda, colorida, bem alegre. Muito feliz em receber o convite para estar na novela! Gratidão! E o público de casa, com certeza, vai curtir essa história junto com a gente!”.
Fora dos bastidores de Fuzuê, Déo foca no lançamento do documentário “Branquitude Brasileira”, que acontecerá neste sábado, 13 de maio, no Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF), no Centro do Rio de Janeiro. O filme retrata o bicentenário da Independência, a construção da cultura brasileira e a identidade sob os desejos da branquitude. “Enfatiza o racismo estrutural, tendo como recorte a jornada de Luiz Gama, a importância dele na luta abolicionista, além da minha trajetória de homem preto, cidadão, artista e que vem ao longo desses oito anos, recuperando a história e a importância fundamental de Luiz Gama na luta pela liberdade de pessoas escravizadas, através do espetáculo Luiz Gama: uma voz pela liberdade, com texto de Déo Garcez, direção de Ricardo Torres e com Soraia Arnoni, no elenco”, finaliza.
Foto: Marcio Farias