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Cultura da sustentabilidade tem que estar no DNA das organizações

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Foto: Divulgação
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As questões relacionadas à sustentabilidade têm se tornado constantes no meio empresarial e nas decisões dos consumidores. Embora as discussões que englobem práticas de sustentabilidade, senso de cidadania, investimento social e eficiência operacional não sejam novidade há mais de duas décadas, o ESG (sigla em inglês para questões ambientais, sociais e de governança) entrou na pauta definitivamente.

Seguir a agenda ESG virou mandatório, sobretudo depois que Larry Fink, presidente da gestora BlackRock, publicou, no início de 2020, cartas para executivos de empresas e para os clientes da gestora, relatando decisões ousadas. A gestora vendeu cerca de US$ 500 milhões em ativos ligados à produção de combustíveis fósseis. A BlackRock também abraçou a meta de pressionar empresas a zerarem emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa.

Nessa toada ESG, governos, legislativo e agências reguladoras apertaram o cerco, globalmente, para que as empresas se tornem mais sustentáveis.

Apesar da grande atenção que tanto governos como sociedade em geral têm dado para o assunto atualmente, as questões em torno da preservação do meio ambiente e resultados não são uma novidade no meio corporativo.

 

Pessoas, Planeta e lucro

Vale voltar um pouco no tempo e lembrar que, em 1994, o sociólogo britânico John Elkington apresentou ao mundo o conceito Triple Bottom Line, também chamado de Tripé da Sustentabilidade. A ideia propagada por Elkington ressalta que as atividades empresariais deveriam dar pesos iguais aos pilares econômico, ambiental e social. São os famosos 3Ps: People, Planet and Profit (Pessoas, Planeta e Lucro).

Numa recente conversa com Adão Cunha, empresário bem-sucedido do setor de construção civil, reforcei minha percepção de que empresas que alcançaram sucesso sempre praticaram o ESG, mesmo antes de o conceito ser criado. Assim como a Ponto Forte, holding fundada pelo empresário, identifico muitas empresas que têm um enorme impacto social, ambiental e econômico, carregam o ESG no DNA desde sua criação.

Nos negócios criados por ele, em 1997, sempre houve uma preocupação com a legitimação da entrega de valor. Muito antes de a sigla ESG entrar no debate corporativo, Cunha sempre trouxe para a mesa de discussão a responsabilidade da empresa em compensar o impacto negativo que sua atividade provoca no ambiente e na sociedade.

Para o empresário, “é preciso trazer um impacto positivo e estar em sintonia com a sociedade. A empresa precisa fazer sua parte no social”. Um dos exemplos citados por Cunha é a construção de um prédio. Segundo ele, todo o processo deve estar em harmonia com a região, desde o início do projeto arquitetônico até a compensação dos impactos trazidos ao ambiente.

Na visão de Cunha, se o projeto de construção tem licença para retirar, por exemplo, algumas árvores, a compensação ambiental é um dever da empresa. Outra preocupação constante do empresário é a responsabilidade social com colaboradores e fornecedores.

Nos últimos anos, o grupo Ponto Forte entrou no segmento de energia limpa, sobretudo eólica, para participar de uma licitação no município de Santo André (SP). O visionário Cunha percebeu uma oportunidade de negócios e buscou parcerias para participar da concorrência. O consórcio, com a participação do grupo Ponto Forte, venceu a concorrência para construir quatro usinas de energia eólica em Santo André.

A meta desta empresa é partir para projetos que envolvam a construção de usinas maiores do que as instaladas em Santo André. A experiência estimulou o grupo Ponto Forte a buscar mais parcerias, inclusive fora do Brasil. Com parceiros chineses, o grupo Ponto Forte está focado no desenvolvimento de projetos em energia limpa em todo o território brasileiro.

O encontro com Adão Cunha me fez refletir ainda sobre o passado. Recordei a época em que atuei na indústria automotiva, quando empresas desse setor já investiam em tecnologias mais limpas e eficientes. Também já estavam em pauta a eletrificação da frota, a implementação de processos de produção mais sustentáveis e iniciativas de eficiência energética. Presenciei ainda, no meio automotivo, estruturas de governança transparentes e éticas, garantindo que todas as decisões e práticas estivessem alinhadas com os princípios da preservação ambiental e da responsabilidade social.

 

Impactos na reputação

O reflexo dessa postura é impacto positivo na reputação, principalmente diante de consumidores contemporâneos, cada vez mais conscientes e criteriosos. Há uma busca por empresas comprometidas com a sustentabilidade. Do lado dos investidores globais, a agenda ESG está diretamente ligada às decisões de alocação, como no caso da BlackRock. Empresas com desempenho robusto nesta área podem ter acesso mais fácil a financiamentos e atrair investidores preocupados com o impacto social e ambiental.

A pesquisa ESG Radar 2023, elaborada pela empresa de consultoria e serviços digitais Infosys, aponta que os investimentos em ESG nas organizações devem chegar a mais de US$ 50 trilhões até 2025. A pesquisa contou com a participação de mais de 2 mil executivos e gestores de empresas com receita anual acima de US$ 500 milhões e atuação em vários países.

Neste sentido, a adoção das práticas ESG é um pilar estratégico para a sustentabilidade das empresas. As organizações que adotam e internalizam esses princípios no “seu sangue” não apenas atendem a requisitos regulatórios e expectativas da sociedade, mas fortalecem a sua reputação, tornando-se mais resilientes diante de novos desafios.

 

Rogerio Vargas é sócio da Auddas e tem mais de 20 anos de experiência em serviços profissionais e mercado financeiro.Possui MBA em Finanças, pelo IBMEC/SP, e em e-Business, pela FGV.

 

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