Economia
Como funciona a distribuição do FGTS e por que o valor muda todo ano
Rentabilidade das aplicações, conjuntura econômica e decisões do Conselho Curador determinam quanto cada trabalhador recebe anualmente
Instituído em 1966, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) foi criado como uma rede de proteção para o trabalhador brasileiro, garantindo uma reserva financeira formada a partir de depósitos mensais feitos pelos empregadores — equivalentes a 8% do salário do empregado. Embora o saldo seja de propriedade do trabalhador, seu uso é restrito a situações específicas, como compra da casa própria, aposentadoria ou demissão sem justa causa.
Como o FGTS é remunerado
Por regra, o FGTS rende 3% ao ano mais a Taxa Referencial (TR). Nos últimos anos, a TR quase não teve variação, o que mantém o rendimento básico do fundo abaixo de outras opções tradicionais de renda fixa.
Para melhorar a remuneração, desde 2017 o governo passou a repassar aos trabalhadores uma parte do resultado positivo obtido com as aplicações do fundo. Esse bônus anual não tem valor fixo: ele depende do desempenho dos investimentos realizados e pode oscilar conforme o cenário econômico do país.
De 2017 a 2023, mais de R$ 60 bilhões foram distribuídos aos cotistas, reforçando o papel do FGTS como um instrumento de poupança — mesmo que conservador.
Em que o FGTS investe seus recursos
Além de funcionar como reserva individual do trabalhador, o FGTS desempenha forte papel social e econômico. Seus recursos são direcionados a setores estratégicos, como:
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habitação popular,
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saneamento básico,
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infraestrutura urbana.
Essas operações geram receita para o fundo. Em 2023, mais de 60% dos investimentos estavam concentrados no setor habitacional, impulsionado por programas públicos de incentivo ao crédito imobiliário. O bom desempenho desse segmento se refletiu em maior lucro, ampliando o valor repassado no ano seguinte.
A saúde da carteira é determinante: projetos bem executados elevam a rentabilidade; já atrasos, inadimplência ou mudanças econômicas reduzem o lucro distribuível.
Por que o repasse muda anualmente
O montante entregue aos trabalhadores depende de três pilares:
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Rentabilidade das aplicações – quanto maior o desempenho financeiro dos financiamentos, maior o lucro.
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Cenário macroeconômico – inflação, taxa de juros, custo do crédito e comportamento do mercado imobiliário influenciam diretamente o resultado.
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Deliberações do Conselho Curador – o colegiado decide a proporção do lucro que será distribuída e a parcela que ficará retida para manter o fundo sustentável.
Essa combinação explica por que o percentual de repasse pode variar de forma significativa a cada ano.
O que o trabalhador ganha com isso
A distribuição é creditada automaticamente nas contas vinculadas do FGTS, aumentando o patrimônio acumulado. Embora o saque só seja permitido nas regras estabelecidas em lei, o valor extra reforça o saldo do trabalhador e contribui para a preservação do poder de compra ao longo do tempo.
Especialistas pontuam que, mesmo com essa distribuição adicional, o fundo ainda rende menos do que opções tradicionais de renda fixa. Contudo, sua característica de baixo risco e alta segurança institucional faz dele um pilar importante de estabilidade financeira para milhões de brasileiros.
Por que ainda existe tanta dúvida sobre o FGTS
Grande parte da população tem dificuldade em compreender o funcionamento do fundo e o conceito de “lucro do FGTS”. Trata-se da receita excedente que sobra após o pagamento das despesas operacionais e das obrigações financeiras. Essa sobra é distribuída proporcionalmente entre todas as contas, ativas ou inativas.
A falta de clareza muitas vezes está associada ao baixo nível de educação financeira no país, a OCDE aponta que mais da metade dos brasileiros não domina conceitos como juros e inflação.
O que esperar dos próximos anos
A continuidade da distribuição depende da saúde econômica do país e do desempenho dos projetos financiados. A expectativa é que o setor habitacional siga sendo o carro-chefe, garantindo previsibilidade ao fundo.
Apesar de conservador, o FGTS deve continuar como reserva essencial para momentos de imprevisto, estabilidade de longo prazo e realização de projetos pessoais, como a compra do primeiro imóvel.
Com mais transparência e informação, o trabalhador consegue compreender melhor como seu dinheiro é utilizado, e como o FGTS pode se tornar uma peça estratégica em seu planejamento financeiro.




