Com a alta no custo de vida, organização financeira vira ferramenta essencial para famílias das classes C e D
O planejamento financeiro pode parecer um luxo para quem mal consegue pagar as contas do mês. Mas organizar os gastos não deve ser privilégio de quem tem dinheiro sobrando, e sim uma necessidade urgente para quem vive com a falta dele. Em um cenário de inflação persistente, informalidade no emprego e aumento do endividamento, são justamente as famílias das classes C e D que mais precisam olhar com atenção para o próprio dinheiro.
O Brasil tem atualmente 78 milhões de pessoas endividadas, segundo levantamento da Serasa, e sete em cada dez famílias da capital paulista enfrentam inadimplência, conforme a FecomercioSP. E a pergunta que muitos fazem é: dá para economizar mesmo com pouca renda? A resposta é sim e, segundo especialistas, pequenas atitudes no dia a dia podem fazer grande diferença.
Para o economista Amerson Magalhães, da Crefaz, é possível sair do sufoco com organização e disciplina. “Muita gente acredita que só consegue economizar quando sobra dinheiro. Mas, na verdade, é a economia que cria essa sobra. Mesmo valores pequenos, quando acumulados com constância, viram um colchão financeiro importante”, afirma.
À frente da Crefaz, instituição financeira focada no público que não tem acesso ao crédito tradicional, Magalhães listou algumas atitudes simples que podem ajudar quem está no vermelho a virar o jogo:
- Coloque seus gastos no papel
Comece a anotar todos os seus gastos do dia. Seja a compra no mercado ou o cafezinho na padaria. Essa organização financeira vai ajudar a trazer clareza aos gastos desnecessários ou feitos por impulso. “Esse é o passo essencial para identificar desperdícios e entender para onde o dinheiro está indo. É comum a gente se assustar com o total de gastos que parecem inofensivos isoladamente, mas somam muito ao fim do mês”, explica o economista.
- Priorize despesas essenciais
Feita a lista com todos os gastos, organize por categorias, separando o que é essencial (moradia, transporte, alimentação) do que é supérfluo (assinaturas de streaming, alimentação fora de casa, jogos etc). “Dessa forma, você identifica os gastos que pode cortar”, afirma.
- Cuidado com os ‘gastos invisíveis’
Os chamados “gastos invisíveis” são verdadeiros vilões do orçamento. São pequenos valores que saem do bolso no dia a dia, muitas vezes de forma automática ou desatenta, e que passam despercebidos: o chiclete ou o café na padaria, o doce no meio da tarde, o pagamento automático de serviços que não são usados (streaming ou apps) e até o desperdício de água, luz e gás. “Esses gastos corroem o orçamento silenciosamente. Ter atenção a eles é essencial para quem quer recuperar o equilíbrio financeiro”, alerta Magalhães.
- Crie o hábito de guardar, mesmo que pouco
Cortar pequenos gastos pode ser o começo de uma virada de jogo rumo à saúde financeira. “Muitas famílias acham que não conseguem poupar, mas guardar R$ 2 por dia, por exemplo, já dá mais de R$ 700 no fim de um ano”, pontua o especialista. Escolha um valor pequeno e possível para guardar toda semana e adote uma rotina de economia, como economizar o valor de um lanche que deixou de comprar.
- Faça compras inteligentes
Quantas vezes você comprou algo que nunca usou? Comprar por impulso ou sem planejamento costuma custar caro: faça lista de compras a cada ida ao supermercado, resista às promoções e pesquise antes de comprar. “Saber separar desejo de necessidade é fundamental”, destaca Magalhães.
- Educação financeira começa em casa
Falar sobre dinheiro com a família, incluindo as crianças, ajuda a criar uma consciência coletiva e envolve todos no controle de gastos da casa. “Falar sobre dinheiro ainda é tabu em muitas famílias. Mas quando todos participam do planejamento, as chances de sucesso aumentam. E cada meta alcançada deve ser comemorada”, conclui Magalhães.