Especialista explica que há critérios objetivos, progressão por fases e suporte psicológico que orientam um retorno seguro ao esporte e ao trabalho.
Voltar a treinar ou ao trabalho depois de uma lesão exige mais do que cumprir um prazo: são necessários critérios objetivos, passos bem definidos, reavaliações frequentes e uma equipe acompanhando. Avaliar força, equilíbrio, controle do movimento, sintomas (dor/edema) e como a pessoa se sente mentalmente reduz o risco de nova lesão e melhora a recuperação.
Em geral, especialistas usam metas concretas, como alcançar pelo menos 90% de simetria entre as pernas em testes de força e saltos (o chamado Limb Symmetry Index — LSI). Isso quer dizer: o membro que se lesionou deve performar quase igual ao lado saudável. Mas esse número sozinho não basta, precisa ser considerado junto com outros testes e com a avaliação do profissional.
Crianças e jovens que voltam rápido a esportes de alto impacto apresentam maior chance de se machucar de novo: pesquisas mostram que a taxa de reincidência pode chegar a cerca de 20% em alguns grupos. Voltar sem critérios rígidos ou sem progressão adequada aumenta muito esse risco.
“O retorno precisa ser por fases, devagar e medida em metas. Antes de ser liberado, o paciente deve recuperar a mobilidade e reduzir inchaço/dor; recondicionar força, resistência e controle do movimento; realizar treinos técnicos sem contato; e depois treinos com contato controlado (quando for o caso). Em cada etapa, deve-se acompanhar sinais de intolerância (dor, inchaço, queda de performance)”, explica o Dr Geovany Rennó, médico do esporte e cofundador da clínica Player.
Uma avaliação prática normalmente inclui testes de força (isocinéticos ou equivalentes), hop tests (saltos unilaterais), testes de equilíbrio e escalas que medem a confiança do paciente (por exemplo, ACL-RSI em lesões de ligamento). Juntar resultados objetivos, observação funcional e relato do próprio paciente dá o melhor parâmetro para decidir o retorno.
Afinal, existe um prazo recomendado?
Existem estimativas com base na classificação da lesão, mas isso não pode ser o fator determinante. De acordo com o Dr. Geovany Rennó, não existe um “prazo mágico” para o retorno após uma lesão. No caso das lesões musculares, por exemplo, não há padronização rígida de tempo para recuperação, já que a evolução depende de uma série de fatores. O acompanhamento deve ser individualizado e baseado em avaliação clínica, funcional e de imagem, como o ultrassom, que permite acompanhar a cicatrização, a contração muscular e até a formação de tecido cicatricial.
O mesmo vale para quadros de tendinopatia, em que o tratamento precisa considerar não apenas a resposta do organismo de cada paciente, mas também levar em consideração a especificidade do esporte praticado. Afinal, as demandas físicas de um jogador de futebol diferem das de um tenista, e essa particularidade devem orientar tanto o processo de reabilitação quanto a decisão de retorno às atividades.
Medo de voltar, falta de confiança e expectativas irreais influenciam muito o retorno. Avaliar e trabalhar a parte emocional faz parte da reabilitação e ajuda a evitar recaídas. “O retorno seguro não é um calendário, é uma soma de marcos físicos, funcionais e mentais que precisam ser verificados um a um. Para isso, é preciso estabelecer critérios claros, além de assegurar a realização de testes repetidos e a progressão supervisionada, só assim minimizamos recaídas e protegemos a saúde do atleta, seja ele amador ou profissional”, finaliza o médico.