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Ceratocone: cerca de 150 mil brasileiros convivem com o problema na visão

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Campanha Junho Violeta é dedicada à prevenção e conscientização acerca do problema

Em tempos de pandemia, orienta-se não colocar as mãos no rosto para evitar um possível contágio, mas quando um cisco cai nos olhos ou surge uma sensação de coceira, a reação mais comum é a de esfregar a região atingida para diminuir o incômodo. Esse hábito, que parece inofensivo, pode não somente tornar os olhos uma porta de entrada para o novo coronavírus e outros microrganismos, como ser um dos fatores causais do ceratocone, doença que é o tema da campanha Junho Violeta, promovida por profissionais da saúde. A estimativa é que esta doença degenerativa atinja um a cada dois mil indivíduos, sendo que no Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, cerca de 150 mil pessoas convivem com o problema.

O ceratocone é uma enfermidade não inflamatória que afeta a córnea, a camada fina e transparente situada na região anterior do globo ocular. Trata-se de uma doença que deforma essa estrutura, fazendo com que ela afine, aumente sua curvatura e fique com o formato de um cone. Essa alteração na curvatura impede a projeção de imagens nítidas na retina e pode promover o desenvolvimento de grau elevado de astigmatismo irregular, muitas vezes não corrigido apenas com os óculos.

O ceratocone pode causar ainda visão embaçada, imagens “fantasmas”, visão dupla, dor de cabeça, sensibilidade à luz e coceira. Embora os sintomas possam ser semelhantes aos de outros problemas que acometem os olhos, a oftalmologista Renata Fahl, da Oftalmoclin, empresa do Grupo Opty, explica que a piora na qualidade da visão pode ser mais rápida, fazendo com que o paciente troque de óculos e lentes com mais frequência. “É muito importante que, nesse momento em que vivemos, os pacientes diagnosticados com ceratocone não deixem de seguir o tratamento e continuem com o acompanhamento médico regular. Pessoas que sentem incômodos e redução da visão devem consultar um oftalmologista para identificar se esta pode ser a causa”, afirma a médica.

Causas e diagnóstico

Apesar de consideráveis pesquisas, a causa do ceratocone ainda é incerta. Várias fontes propõem que o ceratocone surge de diferentes fatores, dentre estes o genético, o bioquímico, o biomecânico ou o ambiental, sendo que qualquer um deles pode gerar o gatilho para o início da doença. “Há muitos indícios de que o hábito de coçar os olhos seja um fator muito importante para desencadear o início do problema, pois é muito comum a associação de pacientes com este hábito, especialmente durante as crises de rinite alérgica. Dormir pressionando os olhos também pode estar associado com o surgimento do ceratocone em alguns casos. A doença, que costuma aparecer na adolescência e pode progredir até os 45 anos, geralmente ocorre em ambos os olhos, mas pode ser também unilateral”, comenta a oftalmologista.

Ainda de acordo com a médica Renata Fahl, especialista em catarata e lentes de contato, o diagnóstico pode ser feito pelo exame clínico ou por meio de avaliações da córnea, como topografia computadorizada (estudo da curvatura) e paquimetria (análise de sua espessura), que permitem identificar a doença nas fases mais precoces, ressaltando que ambos podem ser realizados simultaneamente.

Tem cura?

O controle deve ser feito com exames específicos para avaliação de provável progressão a cada quatro ou seis meses, dependendo da idade do paciente e do estágio evolutivo do caso. De acordo com a médica, o ceratocone pode levar à cegueira reversível, ou seja, o paciente pode ter uma perda significativa da visão, mas pode recuperá-la com os tratamentos atualmente disponíveis, com o uso de lentes de contato ou cirurgia e, em seu último estágio, o transplante de córnea.

A depender do avanço do ceratocone, as principais formas de reabilitação visual são com a prescrição de óculos e adaptação de lentes de contato rígidas corneanas ou esclerais, em casos mais leves. Já o crosslinking é um método cirúrgico minimamente invasivo que vem se mostrando bastante promissor, indicado para os casos que estão evoluindo e é útil para frear a progressão da doença. “O procedimento consiste no fortalecimento das fibras de colágeno, que representam as pontes de sustentação da córnea, com o uso de radiação ultravioleta, associada a uma substância chamada riboflavina, que aumenta a rigidez biomecânica do tecido”, explica a médica.

Para os casos de ceratocone em que a visão não melhora com o uso dos óculos e lentes de contato, pode-se indicar o implante do anel intraestromal (Anel de Ferrara), e, para os estágios mais avançados, a realização do transplante de córnea. “Os tratamentos estão cada vez mais eficientes. Há novos tipos de Anéis de Ferrara que trazem melhor resultado pós-operatório e novidades nas técnicas de transplante de córnea, como o DALK (transplante lamelar anterior profundo), que diminuem consideravelmente as possíveis complicações cirúrgicas, principalmente a rejeição ao procedimento”, finaliza Renata Fahl.

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