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Bioeconomia atrai gigantes da indústria digital

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Inovações tecnológicas que resultam em novos produtos e serviços associados à biodiversidade amazônica, solucionam gargalos e viabilizam a entrada no mercado estão atraindo indústrias de celulares, computadores, televisores, componentes eletroeletrônicos e outros setores do mundo digital para investimentos em negócios sustentáveis da floresta. O caminho está no Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), política pública federal que completa três anos com o aporte total de R$ 30 milhões, abrangendo até o momento 26 projetos e 24 empresas investidoras do Polo Industrial de Manaus.

A iniciativa mobiliza investimentos em bionegócios como contrapartida pelos incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus, principalmente do setor de informática, cuja legislação obriga o repasse de 5% do faturamento para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I). Além de tecnologias voltadas à produção dessas indústrias, as regras possibilitam o repasse de recursos para soluções inovadoras em bioeconomia nos estados amazônicos do Pará, Rondônia, Acre, Amapá e Amazonas. Em 2021, o montante disponível às múltiplas aplicações tecnológicas no âmbito do instrumento legal atingiu R$ 1,1 bilhão, o que indica o alto potencial da parcela de investimentos que pode ser alocada nas cadeias produtivas da floresta.

“Ao fomentar pesquisas acadêmicas que podem virar negócios ou startups em fase já avançada, o modelo conecta diferentes segmentos visando destravar a bioeconomia e diversificar as alternativas de desenvolvimento na Amazônia”, afirma Carlos Koury, diretor de inovação em bioeconomia do Idesam, organização da sociedade civil que coordena o PPBio.

A estratégia se propõe a disponibilizar formas ágeis e inovadoras para aproximar a indústria com a biotecnologia da Amazônia, abrindo um novo campo de investimentos e geração de negócios, além do avanço na relação socioambiental das empresas com a região. Segundo Koury, a ambição do programa é dobrar os investimentos nos próximos dois anos, em eixos como prospecção de bioativos, tratamento de resíduos e bioinformática, inclusive prevendo tecnologias de bigdata, automação, blockchain, sensores e aplicativos, entre outras frentes.

Pescado, cosméticos, alimentos, fármacos e também o carbono da floresta mantida em pé ou restaurada compõem o cardápio de potenciais negócios, conforme o banco de projetos que soma cerca de 200 itens como vitrine para investimentos empresariais no PPBio. “O esforço inclui a identificação dos gargalos de cadeias produtivas amazônicas e a apresentação de soluções como negócios – da logística à agregação de valor final”, explica Koury, ao reforçar o desafio de aproximar a demanda de empresas investidoras à oferta de projetos viáveis.

De acordo com Koury, o diferencial está em colocar as necessidades da Amazônia como demandas de negócios, contribuindo para uma maior relevância da região em diversos mercados. Ele lembra que, atualmente, o Brasil está longe da liderança em vários produtos da floresta, como é o caso da castanha sem casca, cujo mercado global soma US$ 364 milhões, com somente 5,71% no País. No cacau, por exemplo, o Brasil detém 0,03% dos US$ 9,3 bilhões movimentados mundialmente pelo produto.

“O tema já não é restrito à agenda ambiental e se incorpora aos negócios e demandas de investidores, com a necessidade de mitigação de carbono diante dos riscos da mudança climática”, ressalta Márcio Sztutman, diretor regional do P4F na América Latina, instituição financiadora das ações estratégicas do PPBio. “Ancorado na legislação, trata-se de um mecanismo de parceria público-privada de longo prazo que contribui para cobrir lacunas do financiamento ao empreendedorismo de inovação na Amazônia e aumentar a escala de soluções”, completa o diretor.

A escalada do açaí

A estratégia busca alavancar investimentos das indústrias da Zona Franca de Manaus por meio de um modelo inovador que identifica entraves e integra diferentes soluções em serviços e produtos, na forma de um ecossistema de negócios, para aumentar o valor agregado e viabilizar cadeias da bioeconomia, beneficiando diferentes segmentos. Os projetos são mobilizados através da iniciativa Elos da Amazônia, que realiza chamadas públicas para a seleção de inovações com potencial de chegar ao mercado, em setores produtivos prioritários da floresta. No caso do açaí, em 2021, a iniciativa identificou quatro soluções que receberam um prêmio de R$ 30 mil cada uma e começaram a ser preparadas para apresentação a empresas investidoras.

Entre os destaques, está o produto composto por açaí como cosmético, indo além do tradicional uso como alimento. “O fruto tem elevado poder antioxidante e composição rica em compostos fenólicos com ação eficaz nos cuidados com a pele”, afirma Danniel Pinheiro, CEO da Biozer, startup de biotecnologia que recebeu investimento da empresa de componentes eletrônicos GBR, via PPBio. O negócio está atrelado a práticas para o uso sustentável e garantia de qualidade junto a comunidades extrativistas, além do desafio da viabilidade na logística. “Essa aproximação com as empresas financiadoras vai trazer benefícios para todos os elos da cadeia, representando ainda mais renda e emprego para a floresta”, enfatiza Pinheiro.

Uma das inovações selecionadas pelo Elos da Amazônia, aplicável como solução na cadeia do açaí e outros produtos, consiste na película comestível Revfood, feita a partir da casca, talo e caroço de frutas. A tecnologia evita o desperdício, ao prolongar o tempo de prateleira dos alimentos em até cinco dias, sem alterar o sabor ou gerar odor. “O objetivo é contribuir com ideias de baixo custo que minimizem essas perdas”, explica Jonas Silva, CEO da Biomimética, criadora da inovação, em fase de aprimoramento para se somar a métodos convencionais de proteção, como refrigeração e filmes plásticos. Além da película protetora do açaí, a iniciativa do PPBio identificou o potencial de negócios para uma biorrefinaria e a produção de café a partir do caroço do fruto.

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