Comédia criada para comemorar os 20 anos da Cia Bendita Trupe, Protocolo Volpone – Um Clássico em Tempos Pandêmicos, dirigida por Johana Albuquerque, estreou em 2020 e foi indicada ao Prêmio APCA, na categoria de melhor espetáculo. Agora, essa que foi a primeira peça a estrear em formato presencial, com grande elenco e público restrito e isolado em cabines plásticas higienizadas – ganha uma versão inédita para palco italiano.
Volpone, A Raposa e as Aves de Rapina estreia no dia 9 de março no Teatro Arthur de Azevedo, onde segue em cartaz até 2 de abril, com apresentações de quinta a sábado, às 21h, e aos domingos, às 19h. Ao todo são 16 apresentações, que foram possíveis graças ao ProAC ICMS Direto.
O espetáculo, que fez um barulho estrondoso na mídia, mas só foi visto presencialmente por 400 pessoas, agora retoma para seu projeto original, com a proposta de homenagear o Teatro Brasileiro de Comédia, que realizou uma montagem deste texto em 1953, sob a direção de Ziembinski. A versão inédita da peça também é uma resposta aos acontecimentos de 2023.
Volpone é uma comédia clássica, com uma embocadura de linguagem aparentemente de época, mas também divertida, cáustica e popular. Com tantas adversidades no entorno nos dias que correm, nada melhor do que uma ácida comédia, que discorre sobre seres humanos piores ou iguais a raposas e a aves de rapina, nos fazendo gargalhar e refletir sobre o nosso próprio infortúnio.
Visando ainda fomentar a discussão sobre as relações entre artes cênicas, cultura e o anúncio de novos tempos, como também, compartilhar impressões e relatos com os espectadores sobre o histórico e processo de montagem, acontecerão quatro debates com os criadores do espetáculo e o elenco da Bendita Trupe. Os debates acontecerão seguidos de roda de perguntas do público, sempre aos domingos, após o espetáculo.
A equipe
Essa montagem é a mais famosa comédia de Ben Jonson, na versão de Stefan Zweig, e tem adaptação de Marcos Daud. A idealização do projeto e direção é de Johana Albuquerque e o elenco é composto pelos atores Cris Lozano, Daniel Alvim, Ester Laccava, Fernanda Dumbra, Joca Andreazza, Luciano Gatti, Mauricio de Barros, Pedro Birenbaum, Vanderlei Bernardino, Sergio Pardal e Vera Bonilha. Na visualidade do espetáculo figuram o cenógrafo Julio Dojcsar, a figurinista Silvana Marcondes, o diretor musical Pedro Birenbaum, o iluminador Wagner Pinto e o visagista Leopoldo Pacheco. O projeto conta também com a assistência de direção de Cacá Toledo e produção de Gustavo Sanna.
Sobre o espetáculo
Trata-se de uma adaptação de Volpone, a comédia da ganância, de Ben Jonson, contemporâneo de Shakespeare, um dos textos mais encenados no Reino Unido. O texto ganha uma versão enxugada pelo austríaco Stefan Zweig, nos anos 1920.
Volpone é um homem sem filhos, especialista na arrecadação de riquezas e, para mais acumular, finge estar agonizante e diverte-se com o desfile de bajuladores que, na expectativa de serem contemplados em seu testamento, o enchem de favores e se prestam a todas as humilhações. Para tal, Volpone conta com a colaboração fiel e estratégica de seu criado Mosca, que atua na armação de vários quiprocós para satisfazer a luxúria e sadismo de seu patrão. Ascensão social, conquistas amorosas e a influência nos altos círculos, que só o dinheiro pode oferecer, são temas eternos, todos presentes nesta peça escrita há mais de quatro séculos. A nobreza característica dos textos de época se contrapõe às expressões cômicas e bem humoradas presentes nesta tradução, além da teatralidade farsesca marcante na linguagem da peça.
A adaptação de Marcos Daud atualiza a versão de Zweig, destacando temas contemporâneos como ganância, corrupção, assédio, protagonismo feminino, fake News, judiciário lacrador e trapaças golpistas. A ânsia caricatural por poder e dinheiro acima de qualquer princípio ético ou moral é sempre um tema caro e atraente ao grande público.
O texto foi encenado pelo Teatro Brasileiro de Comédia nos anos 1950, e Décio de Almeida Prado, crítico que ajudou a formar o público do TBC, assim descreve o texto: “Voltore, Corvino, Corbaccio… Ben Jonson não teria reunido assim esse bando de aves de rapina, em torno de Volpone, a astuta raposa velha, se não pretendesse escrever a mais estranha e inesperada das comédias: ‘a comédia da morte’ ”.
A letra da música “Oh, Veneza, Terra dos Sonhos”, escrita especialmente por Bertolt Brecht para uma montagem deste texto pela diretora Elizabeth Hauptmann, em 1952, serviu de inspiração para a abertura deste espetáculo.
Sobre a Bendita Trupe
A Bendita Trupe é um premiado conjunto paulistano, que tem como linha de pesquisa a criação de espetáculos para o público adulto e infantojuvenil, com linguagem crítica e poética voltada ao Brasil contemporâneo. Tem como princípio fundamental estimular a inteligência e o humor de todas as idades, perseguindo o ideal de um teatro “sério” e paradoxalmente, divertido. Em 2022, a Bendita Trupe ganha a Lei de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, para realizar Desmascarados, uma Desconstrução de O Rei da Vela, em homenagem aos 100 anos da Semana de Arte de 1922. Como resultado inicial da pesquisa para este espetáculo, o projeto gerou um experimento cênico pedagógico, Fortes e Vingativos como o Jaboti, um “painel lítero musical imagético” sobre o Modernismo, que se apresentou na Cúpula do Theatro Municipal. Em 2021, cria um espetáculo virtual, Trevas ao Meio-Dia, numa homenagem ao poeta Augusto dos Anjos. Em 2019, realiza a leitura encenada de Volpone, de Ben Jonson, em homenagem ao Teatro Brasileiro de Comédia, na Biblioteca Mario de Andrade, no 465º aniversário da cidade de São Paulo, que resultou, em 2020, na comemoração dos 20 anos da cia., realizando Protocolo Volpone. Primeiro espetáculo a subir a cena na pandemia, ainda antes da vacina, o grupo retorna ao presencial com todos os protocolos de segurança. Em 2017, produz Hospedeira & Paquiderme: Díptico de Estranhas e Esquizos Dramaturgias, dois monólogos que conversam sobre os colapsos mentais, que estreou no SESC Consolação. Em 2015, encena dois espetáculos de jovens dramaturgos do SESI – British Council, Solilóquios e Em Abrigo, que esteve em cartaz no Mezanino do SESI Paulista.
Sobre Johana Albuquerque
É diretora, atriz, produtora e pesquisadora teatral. É pós doutora pela ECA/USP e dirige a Bendita Trupe. Tem 20 espetáculos encenados na cidade de São Paulo. Johana também é professora universitária. Além das montagens com a Bendita Trupe, em 2018 dirige a pesquisa cênica Quadro em Branco, numa parceria com o PPGEAC da UNIRIO, com as professoras atrizes Rosyane Trotta e Jacyan Castilho, uma revisitação ao Auto dos 99%, do Centro Popular da Cultura, CPC, tomando a história da universidade pública brasileira como metáfora da exclusão social no país. Em 2015, Johana dirige o Coletivo Quizumba, um coletivo negro com a pesquisa Santas de Casa Também Fazem Milagres, pela Lei de Fomento ao Teatro, que resultou no espetáculo Oju Orum, na Sala Adoniran Barbosa, no CCSP.
Ficha Técnica
Texto: Ben Jonson, na versão de Stefan Zweig
Adaptação: Marcos Daud
Idealização e direção: Johana Albuquerque
Assistência de direção: Cacá Toledo
Atores:
Daniel Alvim (Volpone),
Ester Laccava (Canina),
Joca Andreazza (Corvino),
Luciano Gatti (Leone),
Fernanda Dumbra (Juiz),
Maurício de Barros (Mosca),
Pedro Birenbaum (Inspetor e Músico em cena),
Vanderlei Bernardino (Voltore),
Sérgio Pardal (Corbaccio),
Vera Bonilha/Cris Lozano (Colomba).
Cenografia e Adereços: Julio Dojcsar
Figurino: Silvana Marcondes
Direção Musical, Músicas Originais, Produção de som e Teclados: Pedro Birenbaum
Iluminação: Wagner Pinto
Visagismo: Leopoldo Pacheco
Orientação corporal: Renata Melo
Operação de Som/Microfonista: Igor Souza
Operação de Luz: Iaiá Zanatta
Design gráfico: Werner Schulz
Mídias sociais: Carolina Coelho
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Fotos Divulgação: Marcelo Villas Boas
Assistência de Produção (sala de ensaio): Marcelo Leão e Lucas Vannat
Produção Executiva: César Ramos
Administração: Complementar Produções Artísticas
Direção de Produção: Gustavo Sanna
Coordenação Geral: Johana Albuquerque
Realização: Bendita Trupe
Serviço
Volpone, A Raposa e as Aves de Rapina
Temporada: 9 de março a 2 de abril, de quintas a sábados, às 21h, e aos domingos, às 19h*
Teatro Arthur Azevedo – Avenida Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca
Ingressos: Grátis, distribuídos 1h antes do espetáculo
*Debates: 12, 19, 26 de março e 2 de abril, após a apresentação
Duração: 100 minutos
Classificação: 12 anos
Capacidade: 349 lugares
Acessibilidade: Teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida