Falar em Direitos Humanos é abstrato para muita gente, e por incrível que pareça, trata-se de um tema polêmico. Para muitos não fica clara a relação entre fracasso, desigualdade e ações afirmativas.
Nas redes sociais ninguém posta os reveses. Dizem que isso não engaja, um contrassenso, pois é nas flutuações que mostramos estar vivos e mantidos na luta.
É que é difícil sofrer para a plateia. Partilhar as dores e insucessos pede recolhimento.
Com todos os fatos que nos cercam está provado que para algo acontecer nós construímos.
Sim! Existe o imponderável. Existe a estrutura.
É possível dizer que cada vez que abrimos mão do que está em nosso controle, o resultado chega? O fracasso ou sucesso são consequências das nossas ações. E aqui não venho dizer que nós temos 366 novas oportunidades pela frente, 24 horas por dia, pois a desigualdade torna a luta de cada um e cada uma brutalmente diferente.
Sobre aquele conselho de que para vencer na vida é preciso arrumar a cama ao acordar… Esse discurso serve para um tipo específico de pessoa, que tem uma casa e pode se dar ao luxo de arrumar ou não a cama, pode até existir um funcionário dedicado a esta tarefa.
Há, porém, a história em que a pessoa não tem sequer moradia, saneamento básico, cama. A luta dessa pessoa começa antes.
Mas e então? Como fazer a diferença? Cada um precisa olhar para si e enxergar os seus privilégios e desvantagens sociais.
As diversas discriminações não podem ser deixadas de lado, pois marcam uma necessidade de energia adicional para sair de um lugar social para outro.
O meu corpo é atravessado por interseccionalidades. Com inúmeras lutas simultâneas que neste ano me levaram a um espaço emocional de mais alegria. Apesar de tudo, mantive a serenidade.
Então o meu projeto ainda não aconteceu. Agora, diante deste dado, eu posso olhar para frente e decidir “vou prosseguir”?
Sou grata, pois os contratempos nos dão a dimensão do que somos e como reagimos. É, sim, possível mudar, e escolher uma ação por dia. Mesmo sabendo que sua ação pode custar mais do que para outra pessoa, que, por exemplo, pode ir a pé para o trabalho, diferente de você que atravessa a cidade usando três transportes públicos.
Por exemplo, tem um livro que as pessoas falam em acordar às 5h da manhã para ler, meditar e crescer. Isso não vale para aquela pessoa que acorda às 4h para dar tempo de atravessar a cidade e chegar ao trabalho, sabendo que o retorno será tão cansativo como a ida. Aí essa pessoa às 4h já está mal-humorada, por não dormir o suficiente na última década.
As ações afirmativas servem para que a máquina do fracasso pare de moer, a reprodução da desigualdade cesse, para que todos tenham acesso ao que nossa constituição garante nos direitos fundamentais e sociais.
A minha vida e a sua têm valor.
Então olhe para a sua vida e reavalie se há fracasso de verdade, ou se foi apenas uma pausa necessária para progredir em outros pontos.
Nós somos finitos, e cada um tem obstáculos diferentes para chegar a lugares diferentes.
Não é somente sobre mim, temos dificuldade de olhar para o outro, pois é a nossa dor que queima.
A chave, então, para 2024 é a intencionalidade para a mudança, para implementar a diversidade.
Não vai ser fácil, não vai ser rápido, vai custar, mas só você pode seguir o caminho com a certeza de que nadará mais do que qualquer outro nadador na competição da vida.
A desigualdade reproduz os fracassos, mas podemos aceitar e usar as ações afirmativas como ferramenta de combate à reprodução dos insucessos.
Sobre a autora:
Viviane Nogueira de Moraes Danieleski é escritora, advogada contratual, empresarial e tributária, gestora estratégica, coordenadora do curso de Direito da Universidade Ibirapuera, tutora EAD e professora de pós-graduação e graduação. Autora do livro infanto juvenil“O mistério do sono profundo”.
Para mais informações sobre o trabalho de Viviane Nogueira de Moraes Danieleski, visite o seu perfil no LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/vivianemoraes/