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71% das oncologistas já se sentiram injustiçadas no trabalho por serem mulheres, segundo Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica

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Dados levantados pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), por meio da pesquisa Equidade de Gênero na Oncologia, mostram números alarmantes sobre as mulheres na saúde. Realizado com 125 oncologistas associadas e com o intuito de mostrar a disparidade entre os gêneros, o estudo revelou que 25% das mulheres já sofreram assédio sexual e 50% já sofreram assédio moral no dia a dia da profissão. Ainda, 71% das entrevistadas relataram que já se sentiram injustiçadas por serem mulheres, incluindo o desmerecimento de seu trabalho por parte de colegas, gestores, subordinados e pacientes, além de preconceito referente à maternidade.

De acordo com a Dra. Clarissa Mathias, segunda presidente mulher na história da SBOC, os dados são preocupantes, mas reversíveis. “Enfrentamos a desigualdade diariamente e, nós da SBOC, nos vemos como responsáveis na luta pela mudança dentro da sociedade médica. A pesquisa tem o intuito de entender os desafios enfrentados pelas mulheres e buscar soluções para revertê-los. Acredito que o primeiro passo é enxergar qual e onde é a raiz do problema para conseguirmos adaptar às diferentes realidades e obstáculos enfrentados por elas, para que assim haja uma equivalência entre os gêneros”, comenta.

Outras informações relevantes mapeadas pela pesquisa foram: apenas 25% das médicas oncologistas ocupam cargos de liderança em seus empregos e 79% recebem salários inferiores aos colegas do sexo masculino, mesmo exercendo a mesma função. Para Dra. Clarissa Mathias esse é mais um dos desafios que a SBOC está empenhada a vencer. “Hoje, as mulheres são maioria na entidade, sendo 52% do total de associados. Elas têm grande atuação na medicina como um todo e no cuidado oncológico em especial, mas ainda enfrentam barreiras para ocupar posições de gestão e comando”, comenta. “A SBOC dá um passo importante para solucionar essa problemática ao ter uma presidente mulher, mas ainda há muito trabalho a ser feito para que isso não seja exceção”, acrescenta.

Entre as mulheres que são mães, 60% dizem sofrer com a falta de flexibilidade e de adaptação dos locais de trabalho para a maternidade. “Como uma herança da sociedade, as mulheres são majoritariamente vistas como responsável pelo cuidado integral dos filhos. Quando há pouca divisão de tarefas com os pais ou companheiros, a situação acaba impactando no tempo que cada uma investe em sua própria carreira, além de afetar no rendimento dessas mulheres que precisam, também, conciliar o trabalho formal e os serviços domésticos. Somados ao esgotamento físico, esse cenário pode, inclusive, trazer consequências psicológicas, como ansiedade e a síndrome de burnout”, alerta Dra. Clarissa.

Além das dificuldades vividas pelo gênero, há, também, mais uma camada de desafios quando falamos de raça. Segundo a Dra. Ana Amélia Almeida Viana, oncologista baiana e mulher negra, a luta pela igualdade social é constante. “É bem comum lidar com pacientes e colegas que não percebem ou entendem que sou a médica responsável pela condução do atendimento, ou mesmo que olham com estranheza para os meus cabelos crespos – assumidos há dez anos, após um colega dizer que minha aparência não era adequada”, conta. “Sou grata pela oportunidade de representar a comunidade crescente de profissionais de saúde pretos e pretas que vêm tão bravamente buscando espaço nos meios acadêmicos e assistenciais. Sei que falar em nome deles é tarefa de grande responsabilidade, mas também me enche de alegria”, compartilha Dra. Ana.

Para contribuir com a superação desses entraves, a SBOC acaba de formar seu primeiro ‘Comitê de Lideranças Femininas’. “Nosso objetivo é trazer representatividade para mulheres por meio das lideranças de suas áreas, além de demonstrar para a sociedade médica, como um todo, que é preciso fazer mudanças no dia a dia. Direitos iguais não significa que mulheres e homens precisam fazer as mesmas coisas ou trabalhar da mesma forma, pelo contrário. Para que as mulheres alcancem a equidade de gênero serão necessárias adaptações, já que os desafios e realidades femininas são bem diferentes entre elas e ainda mais comparadas às masculinas”, avalia Dra. Clarissa.

A presidente da SBOC reforça que entre as principais iniciativas do comitê estão: o levantamento da quantidade de oncologistas mulheres no país e daquelas que lideram unidades de oncologia; planejamento de ações a partir dos resultados encontrados; e publicação de artigos científicos sobre a problemática. “Vamos juntos trabalhar para uma sociedade mais inclusiva e equitativa”, conclui Dra. Clarissa.

 

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