“Ler mulheres” é uma iniciativa que visa dar espaço à literatura feita pelo público feminino
Você já leu uma mulher hoje? A pergunta, que pode parecer fora de contexto, remete a uma iniciativa mundial que começou com a autora inglesa Joanna Walsh lá em 2014. Na época, ela lançou a hashtag #readwomen2014 de forma despretensiosa, só porque queria conhecer mais o trabalho de mulheres na literatura.
O boom foi tremendo que reverberou também por aqui, no Brasil. Já no ano seguinte, um grupo de mulheres resolveu se unir para formar clubes de leituras de obras escritas por mulheres. Já são oito anos de clubes espalhados pelo Brasil.
Surfando nessa onda, resolvemos listar aqui obras não somente de escritoras mulheres, mas que pertencem a esse mesmo grupo geográfico que é a América Latina. Sirva-se uma taça de vinho malbec e leia algumas obras atuais de mulheres latino-americanas.
Os abismos, Pilar Quintana
Claudia mora com os pais em Cali, na Colômbia, em um apartamento tomado por plantas e rodeado por precipícios físicos e metafóricos. O ambiente, exuberante e bem-cuidado, é um contraste, uma oposição à mãe indiferente que está em conflito com os caminhos escolhidos e impostos para a própria vida. Como muitas famílias, a de Claudia passa por uma crise, e basta o casamento de seus pais estremecer para que ela comece a entender a fragilidade dos limites que mantêm a previsibilidade do cotidiano.
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A partir da expectativa e de seu olhar atento e ao mesmo tempo inocente de criança, é a menina que narra os acontecimentos que abriram as fendas por onde entraram seus piores medos, aqueles que são irreversíveis e podem levar à beira dos abismos.
Mandíbula, Mónica Ojeda
Fernanda, uma insolente estudante do Ensino Médio apaixonada por literatura e filmes de terror, acorda com os pés e as mãos amarrados em uma cabana no meio da floresta. Sua sequestradora, entretanto, não é uma estranha. Trata-se de Miss Clara, a professora de Literatura, uma mulher assombrada pela memória da própria mãe e assediada durante meses por suas alunas do Colégio Bilíngue Delta, uma escola católica de elite. Rapidamente, os motivos do sequestro se revelarão muito mais complexos e sombrios do que a vingança pelos traumas sofridos pela professora.
A fúria e outros contos, Silvina Ocampo
Silvina Ocampo é uma das maiores expoentes da literatura argentina, embora o seu reconhecimento tenha se dado de forma tardia. Em “A fúria e outros contos”, as histórias são carregadas de intensidade, crueldade, sexualidade, passando por temas muito díspares entre si. É a voz de Ocampo que confere unidade à obra, considerada um marco na história da literatura latino-americana.
O livro das semelhanças, Ana Martins Marques
Assim que foi lançado, “O livro das semelhanças” se tornou rapidamente um marco da poesia brasileira contemporânea. Além de abordar situações do cotidiano de maneira original, com seus versos livres de rima e de métrica, também fala sobre a própria construção do poema (algo que o seu livro posterior, “Risque esta palavra”, exploraria mais). Sua poesia também fala de memórias, afetos e amores.
Tudo é rio, Carla Madera
“(…) O romance narra a história do casal Dalva e Venâncio, que tem a vida transformada após uma perda trágica, resultado do ciúme doentio do marido, e de Lucy, a prostituta mais depravada e cobiçada da cidade, que entra no caminho deles, formando um triângulo amoroso.”